Uma dupla de mackenzistas, que já estava na história de São Paulo por assinar projetos de diversos prédios famosos na capital paulista, conquistou mais uma honraria após o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarar o tombamento oficial do complexo da Estação Júlio Prestes, no centro da cidade, na região da Luz. O projeto arquitetônico do conjunto foi elaborado pelos antigos mackenzistas Christiano Stockler das Neves e Nelson Dupré.
O complexo contempla as estações Júlio Prestes – que serve de sede da Sala São Paulo e da Secretaria de Cultura do Estado – e Luz, que atualmente é uma das principais estações do metrô paulistano. O monumento foi erguido em 1907, com a construção da Luz, que foi inspirada na Abadia de Westminster, de Londres. Em 1930, a Prestes foi inaugurada para ligar a capital paulista à cidade de Sorocaba. No passado, o complexo representava um importante polo do transporte do café, principal produto de exportação do Brasil no começo do século XX.
O projeto arquitetônico da Estação foi feito por Christiano Stockler das Neves, que fundou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) do Mackenzie. Já Nelson Dupré, graduado e professor da FAU Mackenzie, foi o arquiteto responsável pelo projeto da Sala São Paulo, que fica localizada dentro do edifício da estação. Ambas as construções são interligadas pelo boulevard, com nome do maestro João Carlos Martins.
O tombamento do conjunto arquitetônico foi decidido por unanimidade. A Estação foi reconhecida como um símbolo da forma de pensar a questão econômica na década de 1920 no Brasil, refletindo um intervencionismo estatal que divergia dos padrões do liberalismo clássico.
De acordo com a professora emérita da FAU, e responsável pelo parecer do tombamento, Nadia Somekh, essa decisão ressalta a importância do legado mackenzista na construção da história e da identidade cultural da cidade. "O pedido de tombamento da Júlio Prestes tem 25 anos. E agora, finalmente, é um patrimônio nacional. É um orgulho fazer esse parecer, e constatar que nós temos tradição com o Cristiano Stockler, e alta modernidade com o professor Nelson Dupré”, declarou.
Com o tombamento, a preservação e manutenção da Estação Júlio Prestes agora serão realizadas de forma mais rigorosa, exigindo prévia autorização do Iphan para qualquer restauração ou modificação. A professora ressaltou a importância de um projeto urbano que equacione as questões sociais para efetivamente valorizar esse patrimônio cultural. O local passa a ter segurança a nível federal.
A influência do Mackenzie no estilo projetual dos arquitetos é bastante clara, na opinião de Somekh. "Cristiano é um historicista, representante do ecletismo, das belas artes, do classicismo arquiteturista. Ele valorizava a arquitetura histórica. E o Nelson traz as possibilidades da valorização da história, com intervenções contemporâneas”, explicou.
Para a professora, é fundamental que os alunos mackenzistas tenham compreensão da relevância desse reconhecimento. “Precisamos celebrar. Nossa Instituição transmite valores, e precisamos valorizar os nomes que nasceram aqui. É uma forma de preservação da história em meio a contemporaneidade dos nossos alunos", concluiu.
Além da Sala São Paulo e da Estação Júlio Prestes, Cristiano Stockler e Nelson Dupré têm um legado significativo em projetos arquitetônicos e de restauração. Stockler deixou sua marca em diversos edifícios na cidade de São Paulo, incluindo o Museu de Zoologia da USP, o Edifício Sampaio Moreira e o imponente Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Por sua vez, Nelson Dupré se especializou em restaurações grandiosas, como a do Teatro Municipal de São Paulo, a Cinemateca, o Museu Biológico do Butantã e o Hospital A.C. Camargo, contribuindo para a preservação do patrimônio histórico e cultural.