08.11.2023 - EM
A Universidade Presbiteriana Mackenzie, por meio do Centro de Comunicação e Letras (CCL), recebeu nesta terça-feira, 07 de novembro, a jornalista e ex participante do Big Brother Brasil (BBB), Tina Calamba, para palestrar na abertura do III Seminário da Consciência Negra com tema Vozes Negras da Comunicação e da Literatura.
“Temos um país que mais de 56% da população é preta e parda, e são essas as pessoas que mais sofrem com o racismo estrutural. É importante que os nossos alunos de comunicação estejam a par da luta antirracista, das abordagens adequadas sobre a temática e da representatividade, para que levem isso para suas comunicações no mercado de trabalho. Somente assim contribuiremos para uma sociedade verdadeiramente democrática”, explicou a professora de Jornalismo, Patrícia Paixão, uma das organizadoras da iniciativa.
Em complemento, a professora do curso de Letras, Elisângela Nogueira, comentou que o slogan do projeto é Consciência Negra Muito Além de Novembro. De acordo com ela, a escolha das personalidades que participam desta edição se deu por serem pessoas pretas em posição de destaque. “O tom da pele não diz nada. Temos espaço suficiente para a diversidade de etnias que o Brasil oferece”, destacou.
“Para nós, esse é um evento muito caro e importante, por discutir a respeito da população mais violentada no Brasil. Queremos que esse evento cresça e vá para outros cursos no futuro”, destacou a professora de Jornalismo, Vanessa de Oliveira. Em sequência, a professora de Publicidade e Propaganda, Mirtes Moraes, explicou que mesmo havendo uma maioria branca na Universidade, isso não impede de pensar, refletir e discutir essa temática.
Ao longo do evento, Tina compartilhou que sempre tentou cultivar suas raízes angolanas no desenvolvimento de suas filhas. “Elas têm acesso a mim 24 horas por dia em casa, mas tive que ir ao BBB para que elas se interessassem pela minha cultura. Por mais que minha saída do reality tenha sido prematura, eu consegui influenciar e ser referência para as minhas filhas, e as pessoas se conectaram comigo em algo”, salientou.
Tina comentou que sempre soube que teria conflitos durante sua passagem pelo BBB. De acordo com ela, ser incisiva e objetiva vem de sua cultura, e dosar esse aspecto foi muito desafiador. “As pessoas não se identificaram com a minha cor, com a minha história. Eu fui muito armada e focada para jogar, porque vivo concursos a anos. Do lugar que venho não tenho muitas oportunidades como essa, é se inscrever pra ganhar e ponto final”, explicou.
Para Tina, conseguir se comunicar de forma assertiva é graças a sua formação em Jornalismo. “Fui para o Big Brother para mostrar que tenho talento. Tive aula com a professora Patrícia Paixão e ouvi dela que seria uma estrela. Me agarrei nisso, mas infelizmente muitas pessoas não têm esse mesmo incentivo. Existe uma pirâmide racial que questiona nossos talentos pela nossa cor. Então por isso vim ao Mackenzie, para motivar as gerações de futuros comunicadores”, expressou.
A palestra contou com devocional, proferida pelo reverendo Gildásio Reis. Segundo ele, o Mackenzie se posiciona contra o racismo porque o “não racismo” está presente em seu DNA desde sua fundação. “Nossa história começou em 1870 na casa da professora Mary Anne Chamberlain, com aulas para crianças brancas, pretas, americanas e filhas de escravizados. O Mackenzie começa celebrando a diversidade de etnias e classes. Ser contra o racismo é honrar a memória e história da nossa instituição”, compartilhou.
Durante a tarde, o evento ainda promoveu outras ações: A palestra Manual de Redação: O jornal Antirracista a partir da experiência Alma Preta, com a presença do cofundador e editor chefe do Alma Preta, Pedro Borges; e a roda de conversa sobre Comunicação Antirracista, com o fundador e diretor executivo da plataforma Influência Negra, Robson Rodríguez; e a palestra sobre Representação Negra na Literatura e nas Artes, com o poeta, rapper e artista plástico, Robson Eleut.
O evento, que ocorre anualmente, está em sua terceira edição, e tem sido elaborado por professoras do CCL: Elisângela Nogueira, Mirtes Moraes, Patrícia Paixão, Paula Renata Carmago, e Vanessa de Oliveira. A iniciativa contou com duas alunas de Jornalismo na mediação, Ana Carolina Maciel e Meg Lopes.