17.10.2024
Em tempos onde o equilíbrio emocional, físico e espiritual é cada vez mais desafiador, especialmente após a pandemia da covid-19, refletir a respeito dos benefícios do bem-estar espiritual é essencial. Para explorar essa importante questão, conversamos com o reverendo Robinson Grangeiro, chanceler do Mackenzie. Dr. Robinson tem formação em psicologia e teologia, com mestrado em psicologia social e doutorados em teologia e educação, além de longa experiência em clínica psicológica. Ele compartilha sua visão de como a espiritualidade pode influenciar positivamente o ser humano, e como o Mackenzie tem apoiado seus alunos, colaboradores e professores nesse aspecto.
Como o bem-estar físico e mental de uma pessoa se relaciona com o âmbito espiritual?
Cada pessoa é um ser humano integral, um organismo biopsicossocial e espiritual. Esses aspectos estão interligados, e a chave é o equilíbrio dinâmico, de modo que cada aspecto da experiência humana pode contribuir, ou prejudicar, o desenvolvimento de todas as outras áreas da vida. Quando uma pessoa está bem fisicamente, emocionalmente e socialmente, isso pode tanto levar a uma busca pela transcendência se ela, por exemplo, cultiva humildade e gratidão, quanto afastá-la de Deus. Quanto mais estruturada for a dimensão espiritual, mais capacidade o indivíduo terá de superar desafios em outras áreas da vida. Isso se baseia no ponto de vista judaico-cristão, de que amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento e ao próximo, como a si mesmo, são os dois eixos que estruturam todas as relações e contribuem para o equilíbrio integral.
Qual a importância do bem-estar espiritual no contexto educacional, especialmente em instituições como o Mackenzie?
Após a pandemia, as fragilidades emocionais e as inquietações espirituais cresceram exponencialmente. No Mackenzie, percebemos que cuidar do bem-estar espiritual é tão essencial quanto o desempenho acadêmico e profissional. Instituições de ensino não podem simplesmente ignorar as lutas pessoais que as pessoas trazem consigo. O papel da Capelania oferecido pela Chancelaria, e de outras instâncias, como o serviço médico, os orientadores pedagógicos e educacionais dos colégios, a ouvidoria e o Programa de Atenção e Orientação aos Discentes (PROATO), é justamente acolher, escutar e orientar de forma sensível. Não se trata de proselitismo religioso, mas sim de humanização e de oferecer apoio para que as pessoas encontrem o caminho certo para lidar com seus desafios.
Que iniciativas específicas o Mackenzie oferece para apoiar o desenvolvimento espiritual?
Temos um número significativo de atividades devocionais – 276 por semana – em todas as unidades do Mackenzie, além de celebrações em grandes eventos institucionais e litúrgicos. Em cada unidade, há capelães ou assistentes de capelania prontos para oferecer acolhimento individualizado. Além disso, incentivamos a formação de grupos cristãos de estudo bíblico e atividades que promovem reflexão, cultura e esportes, sempre embasados em princípios e valores confessionais.
Como o Mackenzie lida com a diversidade de crenças dentro da instituição?
O Mackenzie tem uma longa história de respeito à diversidade de ideologias, religiões e filosofias de vida. Há 154 anos, a nossa instituição acolhe alunos, colaboradores e professores de diferentes religiões e filosofias de vida. Não promovemos catequese, mas somos claros sobre nossa identidade confessional, os princípios e valores que defendemos e quais são as implicações e desdobramentos práticos e cotidianos dessa identidade institucional confessional. Acolhemos a todos, sem qualquer tipo de discriminação, e combatemos discursos de ódio e bullying, pois acreditamos que todos são portadores de uma dignidade intrínseca por serem criados à imagem de Deus.
Quais são os principais desafios enfrentados ao promover o bem-estar?
O conceito de bem-estar vai além da simples ausência de problemas. É um equilíbrio dinâmico entre as várias dimensões da vida. Em uma sociedade cada vez mais fragmentada, promover o bem-estar demanda políticas estruturantes, infraestrutura saudável e pessoas capacitadas. O desafio é incentivar essa cultura humanizadora, baseado em princípios e valores cristãos em um contexto no qual as instituições sociais estão em declínio, e os serviços de educação e a saúde acabam absorvendo demandas não atendidas por outras instituições sociais, como a mais importante delas, que é a família.
Que conselhos você daria para os mackenzistas que buscam um maior bem-estar espiritual?
Acredito que o desenvolvimento de uma espiritualidade saudável que se manifesta em relacionamentos interpessoais benéficos começa na interioridade de cada um em relação ao Criador. É preciso cultivar práticas como a meditação na Palavra de Deus, a oração, a comunhão com as pessoas e o serviço ao próximo. Uma espiritualidade não religiosa também pode ser benéfica, através da arte ou da contemplação da natureza, mas, para mim, Jesus é o início e o fim dessa jornada. Ele é o caminho, a verdade e a vida, e é nele que encontramos o verdadeiro sentido da existência.