11.09.2019 - EM Atualidades
O incêndio e a queda do Edifício Wilton Paes de Almeida, localizado no Largo do Paiçandu, no centro de São Paulo, não tiveram causas esclarecidas após a conclusão da perícia, feitas pelas Polícia Civil e que contou com análises da Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Os laudos foram divulgados para os estudantes nesta quarta-feira, 11 de setembro, durante palestra da XXXI Semana da Escola de Engenharia, no campus Higienópolis.
“Nosso laudo de estudos de criminalística não fala em causa do início do incêndio. Não havia elementos de ordem técnica, e desse ponto de vista nós não temos a comprovação da origem”, afirmou o palestrante Marcelo Cherubim, integrante da Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo. De acordo com ele, as imagens externas, os depoimentos colhidos e pelas provas recolhidas nos escombros não levaram a uma conclusão definitiva.
O Edifício Wilton Paes pegou fogo na madrugada do dia 1º de maio de 2018 e desabou após arder em chamas. Sete pessoas morreram e duas permanecem desaparecidas. O local abrigava uma ocupação irregular. Na época, cogitou-se que o incêndio começou após um curto-circuito, hipótese que não foi confirmada pela perícia. A única conclusão à qual a investigação chegou foi a de que as chamas partiram do quinto andar.
Para Cherubim, a velocidade que as chamas se alastraram e o próprio desabamento foram surpreendentes. “Na velocidade em que ele se deu, é uma coisa que não se vê, a gente nunca viu isso na cidade de São Paulo e essa velocidade repentina acabou dando origem ao desabamento da edificação, uma outra consequência que não é comum nos casos de incêndio”, afirmou.
O Mackenzie contribuiu com as investigações ao analisar o material do prédio desabado, principalmente do concreto e da armação, na tentativa encontrar as razões que levaram à queda. Porém, todo material pesquisado estava de acordo com as normas da época da construção. “Fizemos ensaios exaustivos e profundos e concluímos que os materiais em si, concreto e aço, não são responsáveis unicamente e exclusivamente pela queda”, disse o engenheiro Simão Priszkulnik, também antigo professor de engenharia da UPM.
Investigação
Para investigar a queda, foi necessário um trabalho específico de apuração, feito por engenheiros forenses. Cherubim mostrou o caminho escolhido pela perícia, no caso do edifício do Largo do Paiçandu. “Quando a equipe chegou lá, de madrugada, estava no combate ao incêndio ainda, era uma coisa totalmente atípica. Esse combate ao incêndio demorou horas e, na sequência, a retirada do entulho demorou dias”, contou.
“Importante para o aprendizado é entender como as áreas de engenharia conseguem trabalhar junto à polícia científica. Os componentes curriculares que oferecemos no curso da UPM propiciam uma visão das possibilidades de trabalho em engenharia forense”, disse a coordenadora de Engenharia Civil da UPM, Patrícia Barbosa.
Cuidado
Em sua palestra, Priszkulnik mostrou para os alunos diversas complicações que podem provocar a queda de um edifício. “A ideia é chamar a atenção para a maneira correta de projetar, executar e de manter edificações para que problemas sejam evitados”, afirmou. Concepção estrutural com falhas, construção mal conduzida e utilização de materiais equivocados foram indicados pelo especialista, mostrando ainda exemplos de outras quedas de edificações ocorridas no Brasil.
Data
A palestra foi realizada no dia em que se marcam 18 anos da queda do World Trade Center, em Nova Iorque, duas torres alvos de atentado terrorista e que são uma marco na história política e também da engenharia mundial. O fato não foi esquecido pelo professor Priszkulnik. O palestrante explicou que, além do impacto dos aviões, a queda do primeiro prédio provocou distúrbios no solo que contribuíram para o desmoronamento da torre dois.