As novas tecnologias na educação, esse foi o tema da palestra do dia 26 de setembro na XXVIII Semana da Pedagogia, realizada pelo curso de Pedagogia do Centro de Educação, Filosofia e Teologia da CEFT, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do campus Higienópolis.
No auditório Escola Americana, o curso recebeu Daniela Costa, formada em Letras no Mackenzie e coordenadora da pesquisa Tic Educação, no Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC.BR), que falou sobre “Acesso, uso e apropriação das tecnologias em Escolas de Educação Básica”; Pollyana Notargiacomo, professora da Escola de Engenharia (EE) e da Faculdade de Computação e Informática (FCI), que abordou “Games e gamificação: como usar na educação?”; e Mariana Rocha, formada em pedagogia no Mackenzie e professora do Fundamental I no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM), que falou sobre “A experiência do Ensino Híbrido no Ensino Fundamental”. A mediação da mesa ficou por conta da professora de pedagogia, Ana Lúcia de Souza Lopes.
Mudanças nas gerações
O coordenador do curso, Ítalo Francisco Curcio, falou sobre a importância do professor estar preparado para as novas tecnologias. “Os jovens que estão aqui não podem ter o mesmo curso que eu tive, eles devem ter um curso que os atenda daqui quatro anos no mercado de trabalho. Então, nós temos que estar, na verdade, adiantados em relação à sociedade, porque se eu formar um aluno daqui um tempo, com a realidade de hoje, ele já estará defasado, assim eu tenho que preparar um curso que se atualiza dia a dia”, explicou ele.
Segundo a professora Ana Lúcia, a tecnologia não pode apenas substituir o papel e a caneta, porque na verdade ela tem uma potência enorme e deve ser explorada para que sejam desenvolvidas novas formas de aprender e ensinar. “O uso da tecnologia na educação nos ajuda a romper com essa ideia tradicional de sala de aula, explorar as potências da tecnologia e também estabelecer relações mais condizentes com esse perfil do aluno do século XXI, que é um perfil muito mais ativo e muito mais mão na massa”, completou ela.
Por isso, a importância de se realizar um evento como este, focado nos profissionais na área, afinal essas atividades têm, dentre outras funções e objetivos, de trazer atualizações. "Uma palestra como a de hoje, falando sobre novas tecnologias da informação e comunicação aplicadas à sala de aula é um dos muitos exemplos que nós temos para apresentar”, afirmou Curcio.
Acesso às tecnologias
Durante a palestra, Daniela contou um pouco sobre seu trabalho, que tem como objetivo monitorar o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC), pelo acesso à internet e uso de computadores e dispositivos móveis, tanto dentro quanto fora da escola. “É uma pesquisa amostral, nacional e anual, realizada presencialmente nas escolas de educação básica. Entrevistamos alunos, professores, diretores e coordenadores pedagógicos em escolas públicas e particulares, de zonas urbanas e rurais”, explicou ela.
Hoje, as tecnologias não são mais só ferramentas de apoio pedagógico, elas são linguagens, como explica Daniela, e um dos principais desafios do país é universalizar o acesso às tecnologias nas escolas públicas. “Nós falamos de uma cultura digital na qual as pessoas estão inseridas. Levar a tecnologia para as escolas é uma forma de incluir digitalmente os alunos; dar oportunidade para que eles acessem serviços e desenvolvam competências digitais. Vai fazer diferença para vida. Pois se você pensar que até para a inscrição do Enem é necessário ter acesso à internet, quem não tem acesso está excluído desse serviço também”, pontuou Daniela.
Outra questão importante é o uso crítico das tecnologias, afinal, se a internet e os dispositivos são entendidos como linguagens hoje, “nós precisamos pensar em letramento digital, em educação midiática, para que as pessoas possam ser mais conscientes e possam extrair melhores oportunidades das tecnologias”, afirmou Daniela.
Games na educação
O universo dos jogos e como eles podem ser utilizados no âmbito da educação foi abordado por Pollyana, que não só expôs o que são jogos e a diferença entre jogo e brincadeira (um sendo estruturado e outro improvisado), mas também qual é o papel do professor, não só como mediador dessas novas tecnologias na sala de aula, mas como alguém que saiba lidar com tal inovação, afinal, como também citado por Daniela, essas novas tecnologias são consideradas novas linguagens.
“Os estudantes estão acostumados a jogar, pura e simplesmente, mas não a fazer maior uso disso. Então podemos desenvolver competências e trabalhar conteúdos. Mas como podemos usar os jogos que eles já gostam de jogar? Como mediamos isso? Qual é o papel do professor diante dessas novas tecnologias e mais especificamente diante de tecnologias que têm uma característica lúdica e de entretenimento?”, questionou Pollyana.
Uma das grandes vantagens de trabalhar jogos em currículos é poder desenvolver estruturas para resolução de problemas. “E estruturas criativas, criatividade é outra coisa que aplicamos diretamente em jogos”.
Para Pollyana, o maior benefício de trazer os games para o ensino é a questão motivacional, porque a partir do momento que você usa uma linguagem, que já faz parte da vida desses estudantes, você estabelece uma mediação e uma ponte.
Além disso, cada vez mais as habilidades pessoais, conhecidas como soft skills, que vão desde atenção, trabalho em grupo, criatividade, têm maior relevância em relação às habilidades formais e técnicas, as hard skills.
“Cada vez menos o mercado se preocupa única e exclusivamente com a formação. O peso das soft skills tem sido maior, porque uma empresa acredita que pode oferecer treinamentos para suprir a falta de hard skills. Mas agora saber trabalhar em equipe, ter liderança, foco, organização, são coisas que podem também serem desenvolvidas por meio de jogos”, completou a professora da FCI.
Ensino híbrido
O ensino híbrido está dentro de metodologias ativas que misturam o on-line com off-line, incentivando que o aluno estude não só com o livro ou caderno, mas também utilize de outros materiais tecnológicos, que estão à sua disposição, como explica Mariana. Existem vários tipos de ensino e aprendizagem que misturam on-line e off-line, um deles é o de Rotação por Estações, utilizado pelo CPM.
Nela os alunos, em uma disciplina específica, divididos em grupos, passam por modalidades diferentes de aprendizagem. “Nós normalmente fazemos em duas estações, mas pode ser feita em várias. Enquanto uma parte faz um painel com post its sobre determinado assunto, outro está com jogo; enquanto uns fazem dinâmicos, outros jogam barra manteiga, por exemplo. E vamos rotacionando!”, completou Mariana.
Segundo Mariana, nessa metadologia a aprendizagem é totalmente centrada no aluno, no que ele gosta e quais são suas afinidades.
“Focamos na aprendizagem significativa, aquilo que faz parte da vivência do aluno, para que tenhamos um ponto de contato com o conteúdo, para não ser só conteúdo maçante na lousa”, explicou Mariana.
No Mackenzie, Mariana trabalha no MackCode do CPM, no qual os alunos estudam código e programação, pensamento computacional, lógica de programação e pensamento matemático. Apesar das crianças responderem muito bem à rotação e ao ensino híbrido, elas tinham muita dificuldade de serem consumidoras ativas de tecnologia, segundo a professora, por isso o código e a programação surgiu da necessidade de mostrar para as crianças como os aplicativos são feitos e também que eles podem ser agentes de transformação da sociedade por meio desses apps ou até ideias.
“Eles fizeram prototipagem de aplicativos, desde Uber acessível até Ifood de drone. Eles colocam a imaginação no sentido de serem agentes ativos em relação à tecnologia e não apenas receber o que a tecnologia traz”, explicou a professora do Colégio.
Nas palavras da professora Mariana, o MackCode é uma aula de pensamento lógico temperada com assuntos sociais. Assuntos como cyberbullying, a postura diante dos dispositivos móveis, segurança de dados e de que maneira tenho consumido essa tecnologia são temas que norteiam os estudos em sala de aula.
“O ensino é muito orgânico mas ele também exige do professor uma humildade, porque vamos ver que não temos o conhecimento completo, eles vão construir junto com a gente, e eles constroem a partir de vivências”, finalizou Mariana.
*Foto capa: Ítalo Francisco Curcio. Foto: Dago Nogueira/NTAI.