São Paulo completou 471 ano no último sábado, 25 de janeiro. Em meio às comemorações, diversos aspectos da cidade foram ressaltados: sua relevância para o Brasil, a grandiosidade da megalópole, os problemas sociais que a cercam e as diversas possibilidades que a cidade pode oferecer.
Entre os aspectos mais relevantes da capital paulista, certamente está a vida cultural, e a literatura não pode passar despercebida. Com ilustres representantes no mundo literário, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Lygia Fagundes Telles, diversos eventos importantes para o meio literário, como a Bienal do Livro, e momentos marcantes para a história da literatura brasileira, como a Semana da Arte Moderna, o universo dos livros também é um caminho para descrever, compreender, absorver e experimentar a cidade.
De acordo com o professor de Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Cristhiano Motta Aguiar, existem duas palavras que ajudam a compreender as representações literárias sobre São Paulo. “São Paulo é um lugar comparado a um labirinto no qual vozes e personagens se perdem e se reencontram. Este labirinto-cidade é também marcada pela infinitude: a nossa literatura parece enxergar São Paulo como a cidade sem fronteiras, a cidade cuja expansão não encontra limites físicos ou temporais”, afirma.
Ele também explica que, dentro desse labirinto infinito da rotina urbana, a busca é outro elemento representativo importante. “Dentro deste labirinto, deste não lugar, existe uma busca, por outro lado, de encontrar a sua dimensão peculiar”. Dessa forma, em uma cidade representada por sua grandiosidade, a busca por uma particularidade, algo que ajude a definir determinadas identidades, se faz presente: é possível encontrar a São Paulo das Periferias, a São Paulo nordestina, a São Paulo italiana, a São Paulo negra, a São Paulo japonesa. “Assim, São Paulo, na literatura, assume um caráter proteico, ela é muitos rostos ao mesmo tempo”.
Se a capital paulista é um marco de importância vital para o Brasil, na literatura não seria diferente. A maneira como a literatura brasileira se constituiu ao longo do tempo está relacionada e conectada a história cultural de São Paulo. “Narrar São Paulo significou uma contribuição para o entendimento de quem somos nós, seja numa identificação nacional, ou numa problematização existencial”, destaca Aguiar.
Neste sentido, na atualidade, São Paulo se configura como um importante centro cultural para a literatura, marcado como um importante centro organizador da vida literária brasileira.
Se São Paulo, ao longo do tempo, foi narrada e cantada em prosa, verso, conto e crônica, o professor Cristhiano Aguiar elegeu cinco obras que ajudam a compreender o cotidiano e as representações da capital paulista. Confira:
Memórias sentimentais de João Miramar (1924) – Oswald de Andrade
Um dos clássicos experimentais da nossa literatura modernista, este romance é um dos “inventores” do ethos moderno que São Paulo assumiria ao longo do século XX. A invenção, porém, não é ufanismo: o romance está cheio das ironias e inventividades típicas de Oswald de Andrade.
Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960) – Maria Carolina de Jesus
Um clássico da nossa literatura contemporânea. Sucesso na época da sua publicação, o livro passou por um injusto ostracismo até ressurgir nos últimos anos. Com grande qualidade poética, Maria Carolina de Jesus faz uma das grandes prosas testemunhais da nossa língua portuguesa.
Eles eram muitos cavalos (2001) – Luiz Ruffato
24 horas na vida de São Paulo: esta é a proposta do romance do mineiro Luiz Ruffato. O romance nos apresenta uma São Paulo aos fragmentos de uma forma que, na época, remetia à fragmentação da TV e que hoje combina perfeitamente com a fragmentação das redes sociais. Mais um clássico contemporâneo.
São Paulo Noir (2017) – Vários autores, entre eles Vanessa Barbara, Marcelino Freire, Marcelo Rubens Paiva, Drauzio Varella, Ilana Casoy
Coletânea que mostra a potencialidade da literatura policial brasileira. A coleção Noir se dedica a publicar contos policiais que se passam em diferentes cidades do mundo. São Paulo, com todas as suas contradições sociais, não poderia ficar de fora da coleção, que conta com relevantes nomes da literatura brasileira.
Tudo pode ser roubado (2018) – Giovana Madalosso
Um dos mais divertidos e ácidos retratos da São Paulo do século XXI, escrito por uma autora que é também, não só uma cronista afiada da nossa cidade, mas uma ótima observadora dos encontros e desencontros dos afetos contemporâneos.
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