No momento em que diversos países sul-americanos passam por convulsões sociais diversas, a Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) realizou a segunda edição do Seminário Internacional de Comunicação, Democracia e Governo na América Latina, nesta segunda-feira, 11 de novembro, no campus Higienópolis. O evento foi organizado pelo Centro de Comunicação e Letras (CCL) e objetivo é discutir o alinhamento entre os diversos países latino-americanos.
Para o professor da UPM, Roberto Gondo Macedo, organizador do Seminário, o foco do evento é tratar como a comunicação participa da construção democrática. “A ideia da América Latina estar integrada é comum e extremamente relevante. Temos muitas similaridades, com relação a manter a democracia como único caminho válido”, afirmou.
Foram mais de 50 trabalhos de diversos países inscritos no Seminário e, para a programação final, foram escolhidos 12 artigos, que foram divididos em três mesas temáticas: Comunicação, Políticas e Narrativas; Jornalismo Político e as Relações com os Meios; Comunicação Política e Estratégias Governamentais. Os trabalhos são de países como Brasil, Peru, Colômbia, Uruguai e México.
Para o professor da UPM e cientista político, Rodrigo Prando, o contexto em que o evento é realizado, o torna ainda mais importante. “É uma resposta que a academia dá para a sociedade. É uma valorização da política e, dentro disso, da democracia e o papel dos meios de comunicação, em um contexto conturbado em que pululam as fake news e a pós-verdade”, disse.
Uma das apresentações foi da pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Aiane de Oliveira Vieira, que falou sobre populismo e governabilidade no contexto do atual governo brasileiro e da ascensão da direita política. “Uma das estratégias governistas é a emissão de decretos, um mecanismo constitucional que não envolve o legislativo. É uma forma dele atender à agenda proposta na campanha. Fizemos uma análise de sentimentos em torno da polarização de algumas dessas propostas”, destacou.
Outro palestrante, o professor mexicano Manuel Alejandro Robles, tratou sobre o sexismo e a forma como as figuras femininas são tratadas nos meios de comunicação. “A mulher foi vista de uma forma inferior e mesmo assim, os governos não fizeram nada para mudar isso”, assinalou.
Contexto Conturbado
No dia em que se realiza o Simpósio, diversos países da América Latina passam por um período de rupturas democráticas e protestos sociais. Na Bolívia, o presidente Evo Morales renunciou ao cargo, após um processo eleitoral turbulento. No Chile, milhares de pessoas vão às ruas para protestar contra o governo, assim como aconteceu no Equador, em outubro. A Venezuela enfrenta dificuldades com um governo ditatorial.
De acordo com os palestrantes, essas perturbações acontecem por conta de crise econômica e também por questões culturais específicas de cada país. Neste contexto, as mídias sociais ganharam relevância. “São os meios pelos quais dão voz para grupos mais radicais”, disse Aiane.
Já o professor da PUC do Peru, Luis Olivera Cardenas, os meios de comunicação foram surpreendidos pelos movimentos sociais que acontecem nos diversos países sul-americanos. “Existem muitas coisas por cobrir e para mostrar. O problema maior é que não existe, em vários países, projetos políticos muito claros e que o jornalismo cumpra seu papel em informar sobre eles”, concluiu.