Guerras, desastres e tecnologia foram temas de palestra na tarde da terça-feira, 17 de setembro, na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), como parte da programação do XIV Encontro de Comunicação e Letras. O evento, no campus Higienópolis do Mackenzie, contou com a participação dos jornalistas Lourival Sant’Anna e Patrícia Melo Campos, da Folha de S.Paulo.
Os dois contaram boa parte de suas experiências na cobertura internacional. Patrícia, por exemplo, esteve no Afeganistão, Síria, e também acompanhou o drama de países que enfrentavam crises ou desastres, como o surto do Ebola.
Ao fazer este tipo de cobertura, Patrícia deixou claro que é necessário que o jornalista tenha cuidado ao lidar com fontes, pois, em geral, elas passaram por um momento traumático. Além disso, a jornalista diz ser necessário manter um certo distanciamento. "Jornalista está de passagem, não é herói, nem é corajoso, pois a gente volta para nosso conforto. Os moradores, que enfrentam esses problemas, são heróis, pois eles ficam por lá", declarou.
Sant’Anna, que também possui grande experiência em conflitos no Oriente Médio, contou algumas histórias que vivenciou em meio a estes locais, alguns deles envolvendo o Estado Islâmico. O jornalista também narrou que, neste tipo de cobertura, está sempre se convivendo com o risco.
Tecnologia
O relacionamento do jornalista especialista em cobertura internacional também pasa pela discussão da utilização de novas mídias e das redes sociais. Para Sant’Anna, discutir essas novidades passa por um debate sobre o modelo de negócios do jornalismo. “Não dá para ganhar dinheiro da forma como se fazia. A gente precisa ir para as redes sociais para tornar o jornalismo sustentável”, afirmou.
O professor de jornalismo do Centro de Comunicação e Letras (CCL), da UPM, Manuel Nascimento, afirmou que as novas mídias são o ponto central dos debates do evento. “Discutimos os rumos da comunicação, da tecnologia e também as novas maneiras de se fazer notícia e gerar conhecimento”, disse.
Conflitos internos
Para o professor, as experiências em cobertura de guerra também podem ajudar os alunos a pensarem sobre os diversos conflitos que acontecem no contexto brasileiro. "Antes, só falávamos de grandes guerras, porém agora vemos conflitos em nossas esquinas. E pode até ser um conflito em nível político. Precisamos saber como um jornalista deve se comportar", declarou.
Patrícia, que nos últimos meses sofreu ameaças por conta de matérias políticas, lamentou a situação e disse que esse é um problema que estará cada vez mais presente na vida dos repórteres. "Ser xingado nas redes sociais, infelizmente, é normal. Mas quando isso passa para o mundo real é preocupante. É lamentável, mas teremos que nos acostumar com isso", concluiu.