A neurociência cognitiva tem como foco a investigação dos substratos neurais (regiões e sistemas do cérebro, neurotransmissores, etc.) das diversas funções cognitivas, como atenção, memória, aprendizagem, percepção, funções executivas, tomada de decisão, pensamento, linguagem e consciência. Este campo tem origem na psicologia cognitiva, que por décadas desenvolveu modelos teóricos de aspectos mentais envolvidos com o processamento de informações oriundos do ambiente interno e externo. Contudo, por mais que se soubesse à época que tais processos mentais tinham origem na atividade do sistema nervoso, e que existissem estudos neurocientíficos com modelo animal, as limitações técnicas não permitiam o estudo aprofundado neuroanatômico e neurofisiológico in vivo em humanos, sendo possível estudos in vivo apenas com vítimas de lesões no cérebro ou estudos post mortem. A grande revolução que culminou na expansão na origem e expansão da neurociência se deu nos últimos 40 anos, em razão do desenvolvimento de técnicas não-invasivas (métodos eletrofisiológicos, de neuroimagem e neuromodulação), que permitiu perscrutar amplamente a atividade cerebral de pessoas sem necessidade de procedimento cirúrgico. Desde então, foi possível compreender o papel de várias áreas do cérebro em funções cognitivas e comportamentais. Apesar da neurociência cognitiva também abranger aspectos emocionais e sociais, tem-se adotado, respectivamente, os termos de neurociência afetiva e neurociência social para estes dois tipos de processos.
Em nosso laboratório temos desenvolvido estudos em vários domínios da neurociência cognitiva, como memória, atenção, processos perceptuais visuais, funções executivas (controle inibitório e flexibilização cognitiva) e integração multissensorial (ex., ilusão da mão de borracha e efeito McGurk).
Considerada como um dos tópicos de maior discussão teórico-científica da história da humanidade, a moral é tipicamente compreendida como o alicerce da vida social, o conjunto de estruturas ou fundações que suportam a estabilidade das relações sociais. Em outras palavras, a moral nada mais é do que todo o conjunto de processos sociais, emocionais e cognitivos que garantem a integridade da vida social. Neste sentido, todos os impulsos, que norteiam uma melhor adaptação e interação dos pontos sociais, sendo eles individuais e/ou grupais, podem ser considerados facilitadores ou orientadores morais. No cotidiano social, diferentes nomes são atribuídos a esses norteadores, como “valores”, “virtudes”, e “caráter”, sendo eles utilizados para expressar muitas vezes as mesmas coisas, no caso os fundamentos da moral. Nos últimos anos o conhecimento teórico e técnico das Neurociências possibilitou que a Moral fosse estudada sob outras perspectivas, levando a um aprofundamento conceitual que interliga áreas como Psicologia, Sociologia, Antropologia, Ciências Políticas e Filosofia. Dentre os principais tópicos estudados por nosso grupo e outros centros emergentes, se encontram: julgamento de violações morais; variações no julgamento moral consoante grupos sociais distintos; desenvolvimento moral; variações transculturais dos julgamentos morais e influência de emoções básicas e complexas no julgamento moral. Além disso, nosso grupo realizou recentemente a tradução, adaptação e validação do instrumento Vinhetas dos Fundamentos Morais (Clifford et al, 2015) para participantes da cidade de São Paulo.
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A neuroestética é um campo relativamente recente da neurociência que estuda as bases biológicas subjacentes às experiências estéticas. Tais experiências podem incluir a avaliação da atratividade facial, a avaliação de pinturas, esculturas e outras obras de arte e reações emocionais complexas à beleza, seja no ambiente natural ou em estruturas artificiais. Contribuições para o estudo de neuroestética são abrangentes, a partir de disciplinas dispersas como percepção visual, teoria da arte e emoção, e fornecem importantes achados para áreas de estudo mais estabelecidas em atenção, reconhecimento facial e ergonomia cognitiva. O Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social é um dos três principais centros de pesquisa do Centro de Pesquisa Aplicada em Bem-Estar e Comportamento Humano, uma parceria pública-privada entre a Natura Cosméticos e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A pesquisa conduzida como parte do Centro concentra-se na investigação do efeito do realce cosmético na atratividade facial percebida, na resposta emocional e na avaliação social de faces endo- e exo-grupais.
A Neurociência Clínica abrange a compreensão acerca das disfunções neurais e/ ou deficiência cognitiva ou comportamental associada. Alguns temas base da neurociência clínica incluem investigação das bases neurobiológicas de distúrbios específicos, efeito das mudanças neurais sobre o comportamento e cognição, e como direcionar intervenções eficazes para o tratamento de distúrbios com base no sistema nervoso central. Pesquisas nessa área envolvem campos relacionados a neurociência e a percepção cognitiva, bem como disciplinas como Psicologia, Psiquiatria e Neurologia. Pesquisas desenvolvidas no laboratório de neurociência cognitiva e social (SCN Lab) investigam, principalmente, condições clínicas como transtorno do espectro do autismo (TEA), esquizofrenia, dor crônica; e atualmente faz uso de ampla gama de técnicas como a eletroencefalografia de alta densidade (EEG), rastreamento ocular e reconhecimento facial automático, Espectroscopia Funcional no Infravermelho Próximo (fNIRS), eletrocardiografia (ECG) e estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC).
TEA ou Autismo é um transtorno do desenvolvimento associado a variedade de déficts comportamentais e cognitivos. Pesquisas conduzidas no SCN Lab têm como objetivo compreender melhor os processos cognitivos subjacentes envolvidos no TEA, como o processamento semântico de objetos, reconhecimento da expressão facial e a prosódia da fala, bem como o papel da interação materna nesses processos. Outros aspectos do TEA também são estudados, tais como falsas memórias são processadas usando a análise de componentes do ERP usando o EEG, e como cognição social e representação interna corporal são alteradas e podem ser moduladas por meio ilusão da mão de borracha e de hormônios como a ocitocina, usando o fNIRS. Esses últimos aspectos nos permitem entender melhor os mecanismos neurobiológicos da integração multissensorial no autismo, e como as redes cerebrais relacionadas à percepção do próprio corpo se sobrepõem àquelas relacionadas à percepção do corpo do outro.
A esquizofrenia é um distúrbio psicológico crônico caracterizado por fala e comportamento desorganizados, bem como mudanças na cognição social e na expressão emocional, e frequentemente estão associados a dificuldades em manter a atenção e a memorização. O SCN lab usa principalmente técnicas como rastreamento ocular e EEG para testar os déficits cognitivos subjacentes na esquizofrenia, como diferenças na análise dos movimentos oculares em rostos e cenas visuais, o reconhecimento de expressões faciais emocionais e o monitoramento on-line da atenção visual. Outros transtornos relacionados à dependência e à impulsividade também são objeto de pesquisas para determinar como o controle do craving e da compulsão estão relacionados às alterações neurobiológicas nas redes cerebrais de recompensa, estresse e controle executivo.
A dor crônica, como observado em condições como a fibromialgia, continua sendo um desafio para a ciência, e promove uma fonte comum de desconforto para muitos indivíduos, enquanto suas causas subjacentes ainda são pouco compreendidas. Diante desse contexto, o SCN Lab tem realizado estudos com objetivo de compreender interconexões de áreas cerebrais que sustentam a rede neuronal da dor e como áreas funcionalmente associadas à integração multissensorial, percepção corporal e resposta afetiva que influenciam a persistência da percepção da dor e a empatia a dor em indivíduos com desenvolvimento típico, bem como em indivíduos com dor fibromialgia crônica.