STEM For Girls: Empoderamento feminino

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Evento discute maior representatividade de mulheres na ciência e tecnologia

13.02.2019 Atualidades


“Apenas 28% das pessoas que atuam nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática são mulheres”, afirma Aline Carvalho, fundadora do STEM (science, technology, engineering, math) For Girls, organização com foco na educação, que incentiva a inserção de meninas nas diversas áreas de pesquisa.

Frequentadora assídua da Campus Party há oito anos, Aline coordenava comunidades de tecnologia no evento e começou a perceber que a grande maioria do público era masculino. “Eu enxerguei a necessidade de trazer as meninas para aquele encontro”, contou a empreendedora. Ela e outras lideranças femininas nas ciências estiveram reunidas durante o workshop realizado no Mackenzie em comemoração ao Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, campus Higienópolis, em 11 de fevereiro.

De acordo com dados do Instituto de Estatísticas da UNESCO (UIS), somente 28% dos pesquisadores do mundo são mulheres e elas continuam sub-representadas  nas decisões políticas no campo de STEM. Ademais, dos cerca de 263 milhões de jovens na faixa entre 11 e 17 anos que não estão na escola, algo em torno de 60% são meninas. “São dados alarmantes que mostram o índice de meninas que ficam grávidas, entram em relacionamentos abusivos, saem da escola, e entram em um ciclo de vida em que não tem espaço para suas realizações acadêmicas, nem profissionais”, complementou Aline.

Tais pontos se refletem na desigualdade de gênero dentro da área da pesquisa, e isso se deve a vários fatores, segundo as palestrantes do dia, desde a criação diferenciada, dividindo meninos e meninas em brincadeiras, cores, funções e mesmo ambições. “Acredito que isso venha desde o processo de educação em casa; nós direcionamos as meninas a brincarem mais com bonecas, já os meninos a brincarem mais com artigos como Lego, que envolvem uma lógica maior, um desenvolvimento de raciocínio diferenciado”, assinalou Cecília Carvalho, pesquisadora do Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno (MackGraphe), que pontua a importância de se estimular, dentro de casa e na educação básica, o envolvimento das meninas com jogos que envolvam lógica e raciocínio.

É por esses e outros motivos que o STEM For Girls visa erradicar as diferenciações de profissão por gênero. “Inconscientemente os pais querem tratar suas filhas como princesas delicadas que precisam de proteção e isso muitas vezes as priva de desenvolverem suas curiosidade e se inspirarem em outros exemplos. Na própria criação, uma maneira de se combater essa exclusão seria incentivá-las não só a brincarem, mas também de astronauta”, completou Aline.

Além disso, muitas vezes as meninas se destacam em matemática e em ciências nas escolas, mas ficam retraídas na forma de mostrar, de falar e de se envolver. “Nós queremos incentivá-las a continuarem estudando e avançando para que tenham posições de liderança dentro das áreas de Ciências Exatas, ainda tidas como majoritariamente masculinas”, explicou a pesquisadora.

Representatividade

A necessidade de mobilizar as profissionais já presentes nas áreas é imprescindível para conseguir incentivar as meninas do Ensino Médio, que estão em fase de decisão de qual carreira seguir. “Para mim, foi inspirador conhecer mulheres pioneiras na área de pesquisa, principalmente na parte da astronomia”, relatou a fundadora do STEM.

Duília de Mello, astrônoma, pesquisadora da NASA (Agência Espacial Norte-Americana) reconhecida internacionalmente, é o nome que surge na cabeça de Aline quando o assunto é inspiração. “Ela é uma das pouquíssimas mulheres que são astrônomas. Inclusive, isso me ajudou a quebrar o estereótipo de que um astrônomo é um homem isolado do mundo, de cabelo branco, que só vive no laboratório ao estilo ‘cientista maluco’. Já Duília, não. Ela é uma mulher jovem e que, apesar de todas as barreiras enfrentadas para entrar na universidade e se graduar, conseguiu ir para fora do país e hoje é vice-reitora da Universidade Católica da América, em Washington, nos Estados Unidos”, contou.

Convidada para falar a partir de uma perspectiva canadense sobre a desigualdade de gênero na ciência, Elise Racicot, cônsul comercial do Canadá, conta que seu país tem como pauta a diversidade e igualdade de gênero, visando uma maior representatividade. Durante sua fala, Racicot mencionou que um passo importante nessa direção foi dado pelo primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau, que cumpriu uma de suas promessas de campanha: dividir igualmente entre mulheres e homens os cargos de seu gabinete. “As mulheres têm de se ver representadas para que possam enxergar que é possível mudar a realidade”, complementou a cônsul.

Sobre o evento

O Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência é celebrado a cada ano no dia 11 de fevereiro sob liderança da UNESCO e da ONU Mulheres. Além das participantes citadas, o evento realizado por meio da Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e do MackGraphe, em parceria com a STEM For Girls, também contou com diversos painéis com diferentes temas como: mobilização das mulheres STEM, empoderamento feminino através das comunidades virtuais, ciência empreendedora e os desafios e conquistas das mulheres no setor nuclear.

Segundo a pesquisadora Cecília, que esteve à frente do evento, o intuito do workshop foi expor às alunas do Mackenzie exemplos de sucesso de mulheres nessas carreiras. “Assim mostramos às garotas que é possível conquistar posições de destaque nesse espaço e que, na verdade, ele pertence a todos”, finalizou.