Atualidades

O papel da Fisioterapia no cuidado à prematuridade de bebês

Aberto à comunidade, Projeto de Extensão atua com segmento de crianças prematuras em risco para o desenvolvimento

28.10.202410h46 Comunicação - Marketing Mackenzie

Share on social networks

“Um dos melhores dias da semana. Pela realização de produzir conhecimento, compartilhar e abrir para a comunidade”. Esse é o significado das tardes de segundas-feiras, que deixaram de ser apenas o início da semana para Ligia Canellas Tropiano e Silvana Blascovi de Assis, professoras do curso de Fisioterapia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e responsáveis pelo Projeto de Extensão, aberto à comunidade, que orienta e cuida de crianças em risco para o desenvolvimento relacionado à prematuridade.

O projeto, que existe há dois anos e meio, acontece em parceria com o Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, e atua como um segmento na fase mais importante do desenvolvimento do bebê, com o objetivo de evitar futuras sequelas neuropsicomotoras. Só em 2024, cerca de 50 crianças foram atendidas

Antes da pandemia, o próprio Hospital realizava o segmento em um ambulatório, mas devido à restruturação, passou a cuidar apenas da parte médica, encaminhando os casos para a rede de saúde. Com isso, surgiu uma oportunidade para o projeto do curso de Fisioterapia e, ao receber alta da UTI, a criança é encaminhada para a Clínica Escola de Fisioterapia, localizada na Rua Piauí, 181. 

“Cerca de 90% das crianças que recebemos são prematuras, nasceram precocemente. Atuamos na fase mais importante do desenvolvimento, quando ela é bem nova e tem uma plasticidade neuronal muito intensa. Quanto mais cedo o atendimento é iniciado, mais chances a criança tem de evoluir bem e caminhar para o processo de alta”, aponta Silvana, professora da disciplina Neurologia Infantil.

Junto com um grupo de, aproximadamente, 12 alunos a partir do 6º semestre, Ligia e Silvana fazem a avaliação do bebê, estimulando-o, a partir de escalas do desenvolvimento, com retorno a cada 15 dias ou um mês, dependendo do caso e da evolução do paciente.  

“Todo bebê tem uma sequência, que são os marcos do desenvolvimento. Ele precisa, primeiramente, trazer a mãozinha para a linha média, descobrir que tem dois lados, aí ele vai começar a rolar em blocos, depois rolar efetivamente e, com isso, começar a ganhar extensão, que é ficar de barriga para baixo levantando a cabeça”, explica Ligia, professora da disciplina de Neonatologia.  

Em toda avaliação, os bebês são colocados nessas posturas e é observado o que ele consegue ou não fazer. A soma das posturas apresentadas é colocada em um gráfico com escalas, que cruza a idade, em meses, e o número alcançado pela criança. O resultado demonstra se ela está acima ou abaixo do esperado para a idade. 

Segundo Silvana, os marcos do desenvolvimento focam nas habilidades motoras, com a expectativa da criança cumprir as etapas até os 18 meses de idade, incluindo dar os primeiros passos. “Esperamos que o paciente, com bom desenvolvimento, tenha adquirido todas as habilidades e a nossa alta acontece mais ou menos nesta fase”, afirma. A professora reforça que, se constatada uma sequela e, consequentemente, um atraso no desenvolvimento, a criança é encaminhada para o atendimento dos estágios obrigatórios da Clínica, que possui uma linha terapêutica. 

Ligia explica que um bebê deve nascer de 40 semanas e, para acompanhar o desenvolvimento, é feito um cálculo levando em consideração a idade que ele deveria ter. “Fazemos a idade gestacional que ele nasceu menos 40 semanas, então um bebê prematuro de 34 semanas nasceu seis semanas antes. Para o desenvolvimento dele, nós sempre descontamos seis semanas”.  

É como se um bebê que nasceu prematuro e, hoje tem um ano, tivesse dez meses e meio de idade, já que o nascimento aconteceu um mês e meio antes do considerado ideal. “Conforme a criança vai crescendo, ela tende a diminuir a diferença entre a idade que ela tem, que chamamos de cronológica, e a idade que ela deveria ter, que é a corrigida”, termina Ligia. 

Trabalho com as famílias

As professoras destacam que as famílias têm papel fundamental durante o processo. Simples procedimentos em casa podem enriquecer as oportunidades da criança desenvolver as habilidades necessárias, por isso, além do atendimento, o projeto orienta mães e pais sobre o que fazer no lar. 

“O que fazemos aqui é promoção de saúde. Avaliamos e orientamos as famílias de modo direcionado, coisas muito simples, como o estímulo de deixar de barriga para baixo para a criança ganhar extensão de cabeça”, detalha Ligia. 

Para Silvana, o trabalho com as famílias é muito gratificante. A confiança depositada no projeto e na equipe é explicita, especialmente “quando temos que conversar sobre a criança apresentar um atraso, é um trabalho tão contínuo, que a conversa não é um choque, pois sabem que nós cuidamos e alertamos”. Ela ressalta que as famílias são bem acolhidas e têm um atendimento de qualidade e sem nenhum custo. 

Atuação dos alunos

Atualmente, o grupo é formado por 12 alunos, divididos em pequenas equipes, e um deles é eleito o coordenador discente, que ajuda nos processos administrativos de agendamento e confirmação de consulta, além de participar dos atendimentos. Todas as etapas são pensadas para servirem como um treinamento de competências múltiplas do profissional da Fisioterapia, incluindo a maneira de abordar o paciente. 

Antes do início do acompanhamento, o grupo recebe todas as informações do pequeno paciente através do resumo de alta, fornecido pelo Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha. Nele, há todos os dados do nascimento e do período de internação. 

“Eles aprendem a usar fichas e instrumentos de avaliação motora, usados internacionalmente, fazem a curva de desenvolvimento da criança, preparam o momento da alta, que é muito importante, e recebem formação de liderança e preparo para gestão”, conta Silvana sobre a rotina dos atendimentos feitos pelos estudantes. 

Para Ligia, ao participar do projeto, o estudante relaciona a teoria, vista em sala de aula, com a prática dos atendimentos, e obtém uma visão integral da Fisioterapia. “Às vezes, o profissional da UTI só vê o momento da sobrevivência da criança, e o profissional do ambulatório não vivenciou a etapa anterior. Aqui, eles veem na prática que, se o bebê é estimulado, a plasticidade dá conta do risco de sequela”, afirma. 

Um projeto especial

É fácil perceber o amor que as professoras Ligia e Silvana nutrem pela Fisioterapia e pela Clínica, o que torna essa história muito mais especial. “Para a gente, conseguir levar esse projeto semanalmente é uma realização, porque vem ao encontro do que acreditamos para a formação do aluno. Mais do que entregar uma criança viva para a família e sociedade, é entregar um ser humano autônomo”, define Ligia. 

Sobre as tardes de segundas-feiras, elas continuam sendo “um dos melhores dias da semana. Pela realização de produzir conhecimento, compartilhar e abrir para a comunidade”, como disse Silvana.