Esporte como trabalho: pesquisa do Mackenzie analisa qualidade de vida do atleta paralímpico

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Prática esportiva como um trabalho impacta na saúde física, mental e emocional de paratletas

25.08.2021 Esporte


Em um contexto de diversas transformações nos ambientes profissionais, a forma como a prática esportiva é vista muda muita coisa, podendo afetar inclusive na performance nas competições. No caso de atletas paralímpicos, o desempenho está atrelado à qualidade de vida proporcionada pela execução de suas funções como atleta, enquanto trabalhador. É o que revela a pesquisa desenvolvida pela mestranda do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas (PPGA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Nancy Pinilla, que apresentou a dissertação na última semana.

No trabalho Qualidade de vida no esporte como trabalho de atletas paralímpicos brasileiros, a mestranda mackenzista procurou compreender o que é qualidade de vida no esporte-trabalho de atletas paralímpicos brasileiros do atletismo e quais os principais fatores que resultam em vivências de bem-estar e mal-estar nesse contexto de trabalho. Ao todo, foram entrevistados 11 paratletas da modalidade.

“Eu sempre vi estudos falando sobre a parte mecânica, biomédica e biológica do esporte, mas nunca via nada falando sobre a parte social. E eu queria falar sobre o vínculo do dia a dia deles, sobre um vínculo social”, explica Pinilla, ao justificar os motivos que a levaram escolher o tema de sua pesquisa.

A mestranda optou por trabalhar com paratletas por ser um grupo que ainda enfrenta diversos preconceitos e possuem grandes desafios no cumprimento de sua rotina de treinos. “Queria quebrar essa ideia de que se apoia esse grupo por serem deficientes, mas eles não têm nada disso, podem ter limitação, mas eles sempre superam isso com determinação”, apontou.

A forma como a prática esportiva é percebida, revela expressões que caracterizam os significados atribuídos ao esporte como trabalho pelos paratletas, como a centralidade do esporte e a contribuição para redesenhar a vida e reescrever uma história de sucesso misturada com dor e sacrifício, além de sentimentos de liberdade e de autonomia. Dessa forma, por meio da atividade esportiva, os paratletas decidiram encarar suas vidas com normalidade, desenvolvendo-as de forma ativa e superando as limitações da deficiência.

Nancy Pinilla conseguiu caracterizar que o esporte, em se tratando deste perfil de atleta, é um trabalho, e como a qualidade de vida nesse contexto é percebida pelos paratletas. Eles falaram abertamente sobre condições, organização e relações socioprofissionais, indicando o predomínio de experiências de bem-estar.

Um outro aspecto analisado pela mackenzista foi o impacto sobre a vida pessoal e profissional dos paratletas com o adiamento das competições por conta da pandemia de covid-19. A pesquisa verificou uma diversidade de sentimentos e avaliações por parte dos paratletas na adaptação dos treinamentos, no isolamento social e na readequação dos espaços de treino.

A defesa da dissertação contou com a presença de diversos atletas e paratletas, inclusive o medalhista olímpico de atletismo, Joaquim Cruz, e o atleta Zequinha Barbosa, além da participação de uma das maiores autoridades sobre a qualidade de vida no trabalho, a professora titular aposentada da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Ana Cristina Limongi França, juntamente com o docente mackenzista, Ronê Paiano.

Nancy Pinilla é colombiana, mas vive no Brasil há muitos anos. Seu interesse em estudar os paratletas deu-se em 2016, durante os Jogos Paralímpicos, porém, ela sempre esteve envolvida no mundo esportivo, pois seu marido trabalha como treinador de Atletismo.

Para o orientador da mestranda, o professor do PPGA, Cleverson Pereira de Almeida, ao focar na visão dos paratletas, Nancy Pinilla realizou um trabalho inovador. “O trabalho é revestido de muita singularidade, de relevância muito expressiva”, afirma.

“Tratar de esporte em um país como o nosso é de extrema pertinência, considerando as diversas histórias de superação dos nossos atletas de alto rendimento e de como o esporte mudou a vida dessas pessoas. E no caso de nossos paratletas, isso adquire uma dimensão muito maior, considerando as especificidades envolvidas”, aponta o orientador.

Ele considera, ainda, que é altamente significativo que a pesquisa tenha sido realizada na UPM, uma instituição que sempre esteve ligada ao esporte e apoia diversos paratletas. “O Mackenzie é uma universidade comunitária, confessional, filantrópica. Isso é suficiente para evidenciar o quão importante é apoiarmos pesquisas desta natureza aqui. São elas que apontam para a centralidade da valorização e do respeito ao ser humano na vida em sociedade”, finaliza o docente.