Mudanças na prática clínica em tratamentos oncológicos foram discutidas por especialistas, neste mês de outubro, em evento organizado pela professora de Oncologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), dra. Fernanda Ronchi. As mais recentes atualizações em pesquisas, diagnósticos e tratamentos do câncer foram analisadas pela equipe de Oncologia do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM) com a participação de profissionais de outras instituições.
Os avanços resultam de estudos apresentados em setembro durante o Congresso ESMO 2024, promovido pela European Society for Medical Oncology, na cidade espanhola de Barcelona. Trata-se do mais influente evento de oncologia da Europa para médicos e pesquisadores. O evento do Mackenzie, denominado Pós-Esmo, possibilitou a interpretação dos estudos, em especial daqueles que apresentaram avanços significativos e alteração na prática clínica.
“O ESMO 2024 apresentou estudos relevantes que impactam nos tratamentos oncológicos. Realizar essa troca de experiências entre profissionais de diferentes subespecialidades é fundamental para que essas novidades possam ser aplicadas em benefício de nossos pacientes”, afirma Ronchi, que também é a responsável técnica da Oncologia Clínica e do Núcleo de Ensino e Pesquisa do HUEM.
Mudança da prática clínica
Entre os estudos de maior impacto, o intitulado Niagara, demonstrou avanços importantes no combate a tumores geniturinários, em especial o câncer de bexiga, para doença inicial localmente avançada. Interpretado pelo oncologista do HUEM, dr. Carlos Stecca, o estudo testou quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia) associada com imunoterapia - tratamento que estimula o próprio sistema imunológico do paciente a combater o câncer.
“Esses dois tratamentos associados apresentaram ganhos de desfecho de sobrevida global, com mais pacientes vivos em dois anos de estudo, e dos pacientes vivos um maior número ficou livre do câncer. E a taxa de resposta no momento da cirurgia também foi maior no grupo experimental após os tratamentos associados”, explica Dr. Stecca.
Outro estudo que trouxe avanços na prática clínica foi o Niche 2, para tratamento de câncer de intestino grosso, no caso de tumores localmente avançados, mas não metastáticos, em pacientes com uma alteração específica de DNA, presente em 1% a 5% dos casos. “Os pacientes foram submetidos a somente dois ciclos de uma duplo imunoterapia antes da cirurgia e os resultados foram impressionantes, com uma taxa de 98% que atingiram o critério de resposta na prévia de cirurgia. Na atualização de 3 anos apresentada na última ESMO, a taxa de cura chegou a 100% dos pacientes”, destaca Dr. Otavio Augusto Moreira, oncologista do HUEM que interpretou o estudo.
Dois estudos de câncer de mama foram considerados significativos para a equipe de oncologistas do Hospital Mackenzie e foram apresentados pela dra. Maria Cristina Magalhães. As pesquisas abordam a importância das atividades físicas no tratamento de câncer de mama.
No primeiro estudo, de pesquisadores franceses, as pacientes foram submetidas a treinos pré-especificados e desta forma obtiveram ganhos na qualidade de vida e melhora dos sintomas durante o tratamento, em um período de 4 meses em que praticaram exercício físico. Ao final de 12 meses descontinuaram os treinos e em consequência também cessaram os ganhos de qualidade de vida.
O segundo estudo demonstrou que a execução dos treinos durante a quimioterapia, além de melhorar a qualidade de vida, também demonstrou ganhos no desfecho oncológico. “Foi o que mais chamou a atenção, as pacientes que mantiveram as atividades físicas ao longo do tempo tiveram menos recidiva e viveram mais”, aponta dra. Magalhães.
Outras subespecialidades
Também participaram pelo Hospital Mackenzie os oncologistas Rodrigo Azevedo Loureiro, Lucas Uratani, Rayssa Sena, Emanuella Poyer, Natalia Crivellaro, Otavio Augusto Moreira, Raphael Garcia Alves e Debora Forcellini, além dos especialistas de outras instituições: Noelle Wassano, Caroline de Nadai Costa, Elise Sanfelice e Guilherme Stelko.
Foram discutidas pesquisas relacionadas a medicina de precisão, tumores urológicos; do trato gastro-intestinal; pulmão, cabeça e pescoço; melanoma; mama e tumores femininos. Desde 2020, a equipe de oncologia do HUEM participa de atualizações semestrais, após os congressos europeus e norte-americanos de oncologia, nos quais são apresentados o que há de mais avançado em estudos clínicos, medicamentos e estratégias.