De 13 a 20% das crianças e jovens do Brasil e do mundo têm problemas de saúde mental

Compartilhe nas Redes Sociais
Estudo revela que o estigma entre os pais também é uma barreira

18.05.2022 Pesquisa e Inovação


Uma pesquisa desenvolvida por pesquisadores da Inglaterra em parceria com professores brasileiros, dentre eles, uma docente mackenzista, destaca o papel fundamental de mães/cuidadores como porta de entrada para o sistema de tratamento para crianças e jovens com transtornos psiquiátricos. O estudo faz parte do APPLAUSE, do Reino Unido, do qual faz parte a professora de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), campus Higienópolis, dra. Cristiane Silvestre de Paula, professora adjunta do programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento e membro do Centro Mackenzie de Pesquisa sobre Infância e Adolescência, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS). Dados da pesquisa revelam que de 13 a 20% desse público no Brasil e no mundo têm algum transtorno psiquiátrico e somente 1/3 recebe atendimento formal (psicólogo, psiquiatra, entre outros). 

Silvestre pontua que a falta de estrutura é uma das principais barreiras para assistência formal no mundo, sendo difícil ser modificada por depender de verba e planejamento de políticas públicas. “Num país como o Brasil, a disponibilidade de serviços é baixa e desigualmente distribuída regionalmente. Os serviços informais (religião e autoajuda, por exemplo) acabam sendo uma saída, principalmente para famílias moradoras da periferia e de cidades pequenas, onde os profissionais especializados são mais raros. Verificamos que, junto com o estigma, esse foi um dos principais problemas, sendo que as famílias de baixa renda acabam sendo as mais prejudicadas”.

De acordo com ela, existe dificuldade, vergonha e preconceito das famílias levarem seus filhos para serviços porque não querem que a sociedade saiba que seus filhos têm problema de saúde mental. Isso é particularmente mais evidente em serviços formais como CAPS ou profissionais como psiquiatras, por exemplo. “Se os pais não aceitam, não levam seus filhos para o tratamento, levando ao pior prognóstico. Isso é modificável por modelos de intervenção de desestigmatização”, afirma.

O total de 1.400 famílias de crianças e jovens (10 a 19 anos) de São Paulo e Porto Alegre foram seguidas por um período de quatro anos, como parte dos estudos High risk cohort study for psychiatric disorders e APPLAUSE. As mães participaram de uma entrevista onde responderam um longo protocolo com instrumentos padronizados e validados, cobrindo, entre outros, os seguintes aspectos: (1) uso de serviços formais e informais na assistência a problemas de saúde de crianças e jovens, além de barreiras e facilitadores de acesso a esses serviços, (2) transtornos psiquiátricos na infância/adolescência e seu impacto em atividades cotidianas, e (3) características da mãe/cuidador: nível de escolaridade, classe socioeconômica, etnia, saúde mental, e estigma em relação a saúde mental. Foram utilizados modelos de regressão logística para testar a hipótese principal da pesquisa: maior estigma entre mães levaria a menor uso de serviços de saúde mental para seus filhos. 

O primeiro artigo com o resultado sobre uso de serviços dessas crianças e jovens brasileiros foi publicado na revista European Psychiatry, do Grupo Cambridge University Press, sob autoria da professora Cristiane Silvestre de Paula e colaboradores, incluindo a coordenadora do APPLAUSE, Sara Evans-Lacko. Os principais achados foram que estigma entre os pais impacta significativamente o acesso ao tratamento formal, enquanto famílias com menor poder aquisitivo tendem a usar mais serviços informais.