Pesquisa e Inovação

Nobel em detalhe: Medicina

Professora do Mackenzie comenta premiação que condecorou pesquisas na área de biologia molecular 

30.10.202418h16 Comunicação - Marketing Mackenzie

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No Prêmio Nobel de Medicina 2024, anunciado no começo de outubro, os vencedores foram dois médicos geneticistas responsáveis pela descoberta dos MicroRNAs, classe de pequenas moléculas de RNA responsáveis pela regulação dos genes do corpo humano e pelo desenvolvimento das células: os norte-americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun foram laureados por suas contribuições na área de biologia molecular.  
  
Segundo o Prêmio Nobel, "a descoberta inovadora revelou um princípio completamente novo de regulação genética que se mostrou essencial para organismos multicelulares, incluindo humanos. Sabe-se agora que o genoma humano codifica mais de mil MicroRNAs". Os cientistas foram laureados por entenderem o processo de ativação e desativação dos genes nas células e por descobrirem as moléculas que regulam a atividade genética e são fundamentais para o desenvolvimento celular. 
  
Para compreender melhor a premiação e a pesquisa desenvolvida pelos laureados, conversamos com a professora de genética da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), Liya Mikami.  
  
Para compreender melhor a pesquisa é necessário lembrar que RNA é a sigla para ácido ribonucleico, sendo uma das partes do DNA de uma pessoa e a responsável pela síntese de proteínas. O DNA é a molécula que carrega as informações hereditárias de cada ser humano.  
  
A professora explica que os MicroRNAs são pequenos RNAs não codificantes que regulam a expressão gênica após a transcrição, ou seja, após o RNA mensageiro (RNAs que codificam proteínas) ter sido produzido. “Após produzidos, esses MicroRNAs vão se parear com RNAs mensageiros e regular sua estabilidade e tradução (produção de proteínas) e assim podem promover a inativação ou degradação do RNA mensageiro impedindo a produção da proteína”, explica. 
  
Os MicroRNAs têm como função regular a expressão gênica, na maioria das vezes, por meio da inativação de genes. “Até essa descoberta acreditava-se que a regulação gênica era realizada apenas durante a transcrição do RNA mensageiro, ou seja, que proteínas reguladoras ligavam-se em regiões específicas do DNA selecionando quais genes seriam ativados ou inibidos, assim uma proteína poderia ou não ser produzida”, destaca Mikami.  
  
Cada um dos laureados atua em centros de pesquisas distintos. Gary Ruvkun é biólogo molecular e atua como professor de Genética da Escola de Medicina da Universidade Harvard, enquanto Victor Ambros é professor de Medicina Molecular na Universidade de Massachusetts Medical School. 
  
Apesar disso, ambos realizaram a descoberta juntos, após unirem pesquisas que realizavam em separado, sobre regulação genômica em um verme, e descobriram um novo mecanismo de regulação gênica. 
 
De acordo com Liya Mikami, a descoberta impactou profundamente no desenvolvimento de estudos sobre doenças humanas, como câncer e alzheimer. “Como os MicroRNAs são encontrados em fluidos biológicos, células e tecidos, eles podem servir como marcadores biológicos preditores de doenças como câncer, demências, doenças cardiovasculares, alergias e outras alterações do sistema imunológico”. 
  
A mackenzista também aponta a importância de estudantes de medicina conhecerem as pesquisas dos laureados, para contribuir na análise dos futuros médicos, colaborando para melhor tomada de decisões em relação a diagnóstico e tratamentos. “Cada vez mais a genética impacta na formação médica, não apenas no conhecimento de qual gene mutado leva a qual doença, mas também para que, através das análises genéticas, o médico possa fechar diagnósticos quando a clínica não é suficiente ou quando a doença apresenta características de outras doenças que já foram descartadas como diagnóstico”.