No fim da tarde desta segunda-feira, 28 de outubro, o Théâtre du Châtelet, em Paris, foi palco de uma das cerimônias mais esperadas do futebol mundial, a entrega da Bola de Ouro, concedida pela revista France Football. Contudo, o que era para ser uma celebração do talento futebolístico, tornou-se um momento de críticas após a derrota de Vinicius Jr., jogador do Real Madrid, para Rodri, do Manchester City.
A decisão do Real Madrid de “boicotar” a cerimônia, com a ausência de seus representantes, demonstrou a insatisfação do clube e dos torcedores com o resultado, que consagrou o jogador espanhol do time inglês, como melhor jogador do mundo, causando polêmica sobre os critérios de escolha e as injustiças que podem cercar a premiação.
Vini Jr., conhecido pela habilidade e velocidade em campo, foi decisivo na temporada passada, ajudando o time merengue a alcançar excelentes resultados tanto na Liga dos Campeões quanto no Campeonato Espanhol. Com a boa atuação, para muitos ele era o candidato favorito à Bola de Ouro. Mas, a premiação optou por Rodri, que, além do desempenho consistente pelo Manchester City, teve papel relevante na conquista da Eurocopa pela seleção espanhola.
Isso gerou críticas não apenas dos torcedores brasileiros, mas também de vozes influentes do futebol e da imprensa mundial, que questionam o que consideram um desrespeito ao jogador brasileiro.
Para entender as razões por trás da escolha, é importante conhecer o funcionamento da premiação. A Bola de Ouro é decidida por um colégio eleitoral composto por 100 jornalistas, cada um representando um dos 100 primeiros países no ranking da FIFA.
Segundo o professor de Jornalismo Esportivo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Anderson Gurgel, trata-se de uma premiação semelhante ao Oscar, porém no futebol, na qual um grupo de pessoas aptas a votar, escolhem os jogadores que, em sua visão, se destacaram na temporada. “Como todo prêmio, sempre surgem polêmicas, injustiças e discussões. O voto reflete o que pensa uma média de pessoas e sempre expõe questões subjetivas e humanas, que refletem a sociedade”, afirmou Gurgel.
O comportamento de Vini Jr., considerado provocador por alguns críticos europeus, também foi um ponto citado por jornalistas e comentaristas. Alguns veículos na Espanha chegaram a comentar que a premiação de Rodri representaria a “Bola de Ouro dos valores”.
Na visão de Gurgel, essa decisão e os critérios empregados podem refletir preconceitos estruturais que vão além das estatísticas e números de cada jogador. “O futebol europeu e a cultura europeia têm dificuldade para lidar com o racismo, uma questão que persiste ano após ano. A situação com Vini Jr. mostra que o problema está longe de ser resolvido, e o que ele provoca, ao não se vitimizar, mas ao se colocar como combatente, parece incomodar muita gente”, disse Gurgel.
A escolha de Rodri sobre Vini expõe não apenas um descontentamento esportivo, mas também uma questão mais profunda que envolve os votantes e os desafios sociais que cercam o esporte.
Para o Real Madrid, a exclusão de Vinicius soou como uma injustiça que não se limita ao campo esportivo, mas toca em questões sociais e culturais mais amplas. Mesmo com o boicote do clube à cerimônia e com os debates acalorados que essa decisão gerou, o caso expôs o quanto o futebol, enquanto reflexo da sociedade, ainda precisa avançar no enfrentamento de problemas como o racismo.