01.11.2018
Desde o primeiro turno, com um ataque sofrido por Jair Bolsonaro, o candidato deixou de participar de entrevistas, sabatinas e debates. Ainda no segundo turno, Bolsonaro, mesmo liberado pelo médico, decidiu conceder poucas entrevistas, mas não participar de nenhum debate com Fernando Haddad. Isto posto, em relação a ambos os candidatos, ocorreram poucas mudanças de postura, em termos de elementos econômicos. Todavia, chamou a atenção o reposicionamento de Bolsonaro em relação ao tratamento das privatizações em seu governo, caso eleito.
Segundo o site G1[1][1], Bolsonaro afirma que: “algumas estatais serão extintas, outras privatizadas e, em sua minoria, pelo caráter estratégico, serão preservadas”. Bolsonaro teria afirmado, ainda, não ver “com bons olhos” a privatização da geração de energia no Brasil e que, especificamente, se a Eletrobras fosse vendida para o “capital chinês” não haveria uma privatização e sim uma “estatização” para a China.
Na mesma lógica de se negar a privatizar a Eletrobras, afirmou que:
“As questões de Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste, entre outros, a mesma coisa. Agora, temos muitas estatais que se pode realmente privatizar, são até lucrativas, mas temos que ter um modelo adequado, como por exemplo, o que foi feito com a Embraer no passado, a “golden share” [ação que garante poder de veto ao governo]”.
Tal postura aparenta contradição com as postulações de Paulo Guedes, seu conselheiro econômico e cotado para assumir ministério, que defende um plano radical de privatizações.
Em matéria jornalística no site do jornal O Estado de S. Paulo[2][2], o título de chamada é “Bolsonaro: Estatais estratégicas como BB, Caixa e Furnas não vamos privatizar”. De acordo com a notícia:
“Temos 150 estatais. No primeiro ano, umas 50 que foram criadas pelo PT vamos mandar para o espaço. Para outras 50, vai ter que ter critério, um modelo com responsabilidade, talvez uma golden share, disse Bolsonaro. “O que for estratégico não pode privatizar”, repetiu, citando bancos públicos e a hidrelétrica”.
Ainda de acordo com o jornal:
“[...] o mercado financeiro reagiu mal a comentários de Bolsonaro sobre as “estratégias”, cuja manutenção vai na direção oposta da cartilha liberal de seu guru econômico, Paulo Guedes. Entre as mais afetadas pelas declarações, estiveram Eletrobras e Petrobras, cujos papéis perderam, respectivamente, 9,1% e 3,7% de seu valor na última segunda-feira.”.
Aqui, portanto, reside um ponto fulcral: embora Bolsonaro tenha, nos últimos tempos, assimilado, em seu discurso, elementos do liberalismo econômico e se apoiado na reputação liberal do economista Paulo Guedes, sua trajetória parlamentar foi marcada por aspectos mais ligados ao intervencionismo estatal e a uma conduta política voltada para os interesses da corporação militar, que faz parte de sua tradicional base eleitoral, conforme matérias do jornal O Estado de São Paulo[3][3] e do site Terra[4][4].
Em síntese, o parlamentar Bolsonaro, em seus discursos e práticas legislativas, não se mostrou tão próximo do discurso liberal que, hoje, o candidato à presidência apresenta. Essa contradição em relação à sua trajetória real, concreta, e seu plano de governo e discurso liberal foi, inicialmente, equacionada por um tipo de “vacina” junto ao eleitorado. Ou seja: a presença de Paulo Guedes, um economista liberal, “vacinou” o candidato impedindo que as críticas de intervencionista ou estatizante pudessem fragilizar sua imagem eleitoral.
Ao que tudo indica, até o momento, o mercado tem precificado muito mais uma provável derrota de Fernando Haddad do que como será, realmente, um Governo Bolsonaro. Inclusive, ressalte-se que se, num eventual governo Bolsonaro, houver tensão e ruptura com Paulo Guedes, por conta de suas trajetórias e ideias distintas, teríamos, provavelmente, uma crise de confiança por parte do mercado.
[1][1] Cf. em: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/10/19/saiba-mais-sobre-as-propostas-de-bolsonaro-e-haddad-sobre-estatais-e-privatizacoes.ghtml acesso em 23/10/2018
[2][2] Cf. em: https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2018/10/12/internas_economia,996837/bolsonaro-estatais-estrategicas-como-bb-caixa-e-furnas-nao-vamos-pr.shtml acesso em 24/10/18
[3][3] Cf. em: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-aprova-dois-projetos-em-26-anos-de-congresso,70001900653 acesso em 25/10/18.