Uma pesquisa científica demonstrou as principais causas que podem levar a uma evolução severa do câncer bucal, resultando em mutilações faciais em decorrência da necessidade de ressecção do tumor. Conduzida pelos cirurgiões do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM), dr. Laurindo Moacir Sassi (especialista em reconstrução de mandíbula e maxilar), e dr. Tayron Bassani (cirurgião de cabeça e pescoço), o estudo incluiu 105 pacientes diagnosticados com carcinoma espinocelular.
A demora em procurar os serviços de saúde é o maior agravante do quadro. De acordo com os dados coletados pela pesquisa, o intervalo médio desde os primeiros sintomas (momento que o paciente sentiu a primeira dor ou avistou a lesão na boca) até o diagnóstico final foi de 152 dias. Os principais fatores associados foram tabagismo e o uso excessivo de bebidas alcoólicas.
“Esse atraso na busca por atendimento contribui para a necessidade de ressecções amplas, que são cirurgias para a retirada do tumor. O procedimento acaba ocasionando mutilações faciais drásticas, com defeitos anatômicos que dificultam o processo de reconstrução nos casos oncológicos na região de cabeça e pescoço, incluindo o câncer bucal", explica Sassi.
Com a participação de profissionais e acadêmicos de diferentes instituições e do Hospital Erasto Gaertner, Laurindo Sassi liderou a 36ª campanha de sua autoria – um mutirão de prevenção do câncer bucal, nesta quarta-feira, 27 de novembro, na Praça Osório, no centro de Curitiba. No local foram realizados exames gratuitos para diagnóstico, e fornecidas orientações sobre o autoexame e cuidados necessários para a prevenção da doença.
A doença atinge, predominantemente, homens com mais de 40 anos e pode ser estimulada por condição genética, higiene bucal insuficiente, e uma dieta escassa de vitaminas, proteínas e minerais. Modismos como narguilé e cigarros eletrônicos potencializam os riscos, pois a tragada acaba sendo maior, segundo Sassi - 4,3 segundos contra 2,4 segundos dos cigarros convencionais.
Reconstrução
Autor de nova técnica de reconstrução do terço médio da face, Sassi apresentou seu estudo sobre as causas que podem levar à mutilação facial e o novo método de reconstrução no X Congresso Sul Brasileiro de Câncer Bucal, realizado entre os dias 20 e 22 de novembro em Porto Alegre. No mês de março deste ano, o especialista representou o Brasil na 8ª edição da Conferência Internacional de Odontologia e Saúde Bucal, realizada em Singapura (oeste asiático) e em setembro participou de atividade em Madri, na Espanha.
A técnica consiste em realizar a reconstrução da mandíbula e maxilar com retalho fibular microvascular. Utiliza um segmento do osso da fíbula (localizado na perna) junto com vasos sanguíneos, músculos e pele, que são transplantados para a área afetada do paciente.
É considerada microvascularizada porque envolve a reconexão dos vasos sanguíneos do retalho (fíbula) com os vasos da região receptora no rosto ou pescoço, usando instrumentos de microcirurgia. Os procedimentos são conduzidos por cirurgião de cabeça e pescoço, com a retirada do retalho e a anastomose. Isso garante a sobrevivência do tecido transplantado e permite a reconstituição funcional e estética da área.
“Esse procedimento apresenta vantagens fundamentais para superar dificuldades encontradas nos últimos anos por especialistas neste tipo de reconstrução, com resultados promissores em estética e funcionalidade, mesmo em casos de grandes defeitos anatômicos. No Hospital Mackenzie temos uma excelente estrutura para realizar as reconstruções”, ressalta Sassi.
De acordo com o cirurgião, são necessárias políticas públicas mais eficazes, como programas de prevenção primária e secundária, visando diminuir o diagnóstico tardio, o que amplia as chances de cura e reduz as possíveis mutilações desencadeadas pelo tumor.