Em um artigo publicado recentemente na revista Physics e Chemistry of the Earth (Física e Química da Terra, em tradução livre), pesquisadores liderados pela doutora Rachel Grant, da Anglia Ruskin University, com coautoria de Friedemann Freund, da NASA, e do professor Jean-Pierre Raulin, do Centro de Radio Astronomia e Astrofísica do Mackenzie (CRAAM), descobriram mudanças significativas no comportamento dos animais 23 dias antes de um terremoto de magnitude 7.0 em Contamana, no Peru, que abalou a região em 2011.
Segundo Jean-Pierre, ainda não é possível utilizar este método para a previsão de terremotos, mas é uma importante iniciativa. “Ainda é prematuro, mas incentiva. Sugere fortemente que podemos aprender muitas coisas com essa nova previsão de curto prazo que seriam 15 dias antes do terremoto”, explicou o professor do Centro de Radio Astronomia e Astrofísica da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Este efeito era pesquisado desde 2007, mas foi apenas em 2010 que o grupo de trabalho se formatou e fixou sua busca. O estudo foi feito no Parque Nacional Peruano Yanachaga Chemillén, que tem mais de 120 mil hectares e abriga dezenas de espécies da fauna local. Com instrumentos especiais, que não são percebidos pelos animais, os estudiosos começaram a observar o comportamento dos bichos nas áreas sujeitas a terremotos.
“Foi visto que uns 25 dias antes do terremoto, a frequentação de animais - 6 tipos de mamíferos e 2 de aves - caiu até atingir zero de frequentação no parque, no dia do terremoto”, explicou o professor Jean-Pierre.
Para quem acha que os equipamentos podem ter interferido no ‘sumiço’ dos animais, o pesquisador explica: “Os animais pouco veem a instrumentação, que é ativada somente pelo movimento deles passando. Isso porque muitos estudos prévios foram feitos, muita gente pensava que os próprios instrumentos já afetavam o comportamento, gerando falsas impressões de distúrbios”.
Em um dia comum, as câmeras captaram entre 5 e 15 aparições de animais. No período de 23 dias que antecederam o terremoto, eles foram avistados entre cinco vezes ou menos. Entre cinco e sete dias antes do tremor, nenhum movimento animal foi detectado, o que é muito raro nessas regiões de montanhas e florestas.
Além disso, o grupo de cientistas observou perturbações na ionosfera que começaram duas semanas antes do abalo sísmico. A ionosfera é uma das camadas invisíveis ao olho nu, que fazem parte da atmosfera terrestre. É nela que os sinais de rádio se propagam de uma localidade a outra no planeta, contém cargas elétricas, ou seja, íons e elétrons.
Ao que parece, os animais conseguem sentir os íons positivos nos ares, que como já se sabe são produzidos em larga escala na superfície da terra, quando as rochas nas profundezas terrestres são submetidas às tensões crescentes, enquanto se forma um terremoto. “Uma grande flutuação singular foi gravada oito dias antes do terremoto, coincidindo com a segunda maior diminuição na atividade animal observada no período pré-terremoto”, explica Jean-Pierre.
O professor explica o comportamento dessas partículas. “Pelo fato desses íons positivos saírem do chão, isso muda a condutividade perto da superfície da terra, portanto a gente, a princípio, deveria ver mudanças no campo elétrico. Temos equipamentos que justamente medem o campo elétrico, dois estão na Argentina e um em Roraima e colocaremos outros nos locais onde os graus de terremoto são maiores”.
Esses íons acabam levando a efeitos desagradáveis nas pessoas e nos animais. Um exemplo do que isso pode causar é o aumento da serotonina, que pode levar a sintomas como cansaço, agitação, hiperatividade e confusão. A diferença parece ser que os animais saibam seguir seus instintos, já que se afastam dos locais onde essa ionização acontece, ou seja, do epicentro do terremoto. Pode ser que não aprendamos a fazer o mesmo, mas observar o comportamento deles pode ajudara prevenir que os terremotos sejam grandes catástrofes.