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Pianista representa Mackenzie na Alemanha

Vagner Ferreira participou de concertos com a Orquestra Sinfônica Jovem de Berlim

25.10.201917h00 Comunicação - Marketing Mackenzie

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Pianista representa Mackenzie na Alemanha

Mestre em Música e ganhador de diversos prêmios no Brasil e nos Estados Unidos, o pianista Vagner Ferreira, membro da Capelania do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) e coordenador da série de recitais Música na Capela, projeto ligado diretamente à Chancelaria do Mackenzie, viajou para a Alemanha durante o mês de setembro, representando a instituição em concertos, junto à Orquestra Sinfônica Jovem de Berlim. Conversamos com o músico sobre esta experiência, sua rotina de ensaios, dicas para novos profissionais e sobre o universo musical como um todo, confira a seguir esse bate-papo:

Como surgiu o convite para se apresentar na Alemanha?

O convite veio do Maestro Knut Andreas, o regente titular da Kammerorchester Georg Friedrich Handel, de Berlim. Nos conhecemos por ocasião de um curso de extensão cultural ministrado pelo Maestro Knut aqui na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), em 2014, a convite do Maestro mackenzista Parcival Módolo. Tive a oportunidade de mostrar-lhe o meu trabalho como pianista e, no ano seguinte, em 2015, fui convidado por ele para ser um dos solistas do projeto Klassik am Weberplatz, juntamente à Symphonieorchester Collegium Musicum Potsdam, num concerto “Open Air” inteiramente dedicado a piano e orquestra, que reuniu cerca de 2 mil pessoas. O sucesso dessa apresentação levou a um novo convite, desta vez para uma série de apresentações neste ano de 2019 com a Kammerorchester Georg Friedrich Handel.

Em quantos concertos você esteve presente?

Em três concertos, que ocorreram na Embaixada Brasileira em Berlim; na HandelSaal, que é a sede da Orquestra Sinfônica Jovem de Berlim; e numa linda igreja chamada Friedricheskirch, na cidade de Potsdam. Essa, então, é a segunda vez que me apresento como solista de orquestra na Alemanha, o que para mim é um imenso privilégio!

Como foi representar o Mackenzie?

Representar o Mackenzie em terras estrangeiras foi uma imensa responsabilidade e uma alegria enorme, ainda mais por se tratar de uma instituição que, ao longo de seus quase 150 anos, sempre teve a música e a arte como aliadas no desenvolvimento espiritual e humano de seus alunos e funcionários. Pude atestar o prestígio que nossa instituição possui no exterior, por entre tantas outras coisas, o excelente trabalho educacional aqui desenvolvido em prol da nossa nação, com pesquisas de ponta sendo reconhecidas pelo mundo todo.

E sobre a experiência de se apresentar com a Orquestra Sinfônica Jovem de Berlim?

Foi simplesmente maravilhosa. Os integrantes possuem idades entre 16 e 19 anos e são todos alunos da escola Georg Friedrich Handel Gymnasium, um colégio técnico que oferece habilitação em música. Muitos desses alunos ingressam em importantes faculdades de música e, posteriormente, em orquestras profissionais, outros seguem em outras profissões mas procuram antes por esta formação em música e em artes. Música é algo que eles literalmente respiram! A Orquestra Sinfônica Jovem tem cerca de 80 integrantes, e desta se formou a Kammerorchester Georg Friedrich Handel (Orquestra de Câmara Georg Friedrich Handel), com cerca de 30 músicos.

Qual foi a sua impressão dos músicos alemães?

Fiquei encantado com a disciplina, comprometimento, envolvimento com as obras e com o nível de maturidade artística sendo eles tão jovens. O Maestro Knut faz um belíssimo trabalho de formação com todos eles, e foi interessantíssimo vê-los trabalhando com afinco num repertório desconhecido como as obras de Amaral Vieira e Gorécki. Foi muito gratificante também atestar, através desse contato com a Sinfônica Jovem de Berlim, a qualidade de nossas similares orquestras jovens brasileiras, como a nossa Sinfônica Jovem do Heliópolis, as orquestras do Núcleo Estadual de Orquestras Jovens e Infantis da Bahia, entre tantas outras. O trabalho musical feito por aqui é também magnífico! Por último, gostaria de ressaltar o respeito e a admiração que senti do povo alemão em relação aos artistas brasileiros. Enfim, foi realmente um momento muito especial em minha carreira.

Como era a rotina durante a viagem? Você participou de ensaios?

Durante uma semana, não muito diferente do que já acontece por aqui, minha vida esteve intensamente em torno do piano. Tive a honra de ser hóspede do Maestro Knut em sua casa, ele tem um lindo Yamaha de cauda que foi meu companheiro de trabalho durante o tempo todo que estive por lá. Tivemos uma rotina bem pesada de ensaios, pois em cada concerto apresentamos três obras diferentes para piano e orquestra, sem incluir as peças executadas somente pela orquestra, que incluiu obras de Villa-Lobos, Guerra-Peixe e Leonardo Cunha. Tivemos, na verdade, pouco tempo para cada obra, mas o que ajudou muito nesse processo de construção foi o entrosamento musical que tenho com o Maestro Knut, atestado desde nossa primeira colaboração, em 2015.

Muito antes de chegarmos à frente da orquestra, sabíamos exatamente o que queríamos fazer musicalmente devido a entendimentos prévios. E os ensaios não se resumiam a esses momentos junto à orquestra, pois depois dos ensaios, eu já ia correndo de volta ao piano. 

Qual a principal característica que um músico deve ter?

Um músico precisa gostar de estudar e ensaiar, e esse é o segredo para a felicidade do próprio músico e de seu público! Felizmente, gosto muito de estudar e trabalho durante horas ao piano, sem problemas. Na verdade, trata-se de uma vida solitária à qual muitos não se adaptam: um músico solista passa grande parte da vida somente com seu instrumento musical, pesquisando sons, memorizando milhares de notinhas, dando significado para cada uma delas, construindo um discurso musical coerente, mas acima de tudo buscando algo que se conecte com o mundo interior de outros seres humanos.

Música leva tempo para amadurecer internamente. Quando passamos por todo esse processo de meses de preparação e temos a oportunidade de entregar nossa mensagem ao público durante um concerto, que dura minutos e que é só a pontinha do iceberg, é algo simplesmente maravilhoso. E poder fazer isso acompanhado de uma orquestra, então, é o sonho de qualquer músico!

Qual foi o momento mais emocionante durante os concertos?

Sem dúvida, foi quando tocamos na Embaixada Brasileira em Berlim, em um concerto justamente na semana da Pátria. Pude me sentir realmente em território brasileiro, mesmo estando na Alemanha! Fomos extremamente bem recebidos por todos os membros daquela missão diplomática, que nos tratou com toda a dignidade que um artista merece, sem falar da recepção do público, que foi bastante calorosa. Cada abraço e cada aperto de mão do público demonstrou que, de alguma forma, a minha música os tocou positivamente.

Qual foi seu maior desafio durante esse circuito?

Com certeza, foi tocar três peças para piano e orquestra numa mesma apresentação, durante três noites seguidas. Aprender todo esse repertório e tocá-lo decor foi realmente um desafio e tanto, principalmente por se tratar de obras com estilos e linguagens diferentes: Mozart, com toda sua claridade, alegria, espontaneidade e, ao mesmo tempo, toda a profundidade filosófica do seu movimento lento, seguido da obra “Movimento de Concerto”, do querido compositor brasileiro Amaral Vieira que, com sua linguagem neo-romântica, explora magnificamente as possibilidades do pianismo romântico, percorrendo diferentes estados de alma.

Já o Concerto Op 40, de Henryk Gorécki, explora a linguagem moderna do minimalismo, com grande apelo principalmente entre o público mais jovem. A dificuldade foi justamente transitar por entre todas essas estéticas, e saber enquadrar estilisticamente cada obra em seu contexto. Sem falar do preparo físico, é como correr uma maratona. Mas cada minuto deste processo todo valeu muito a pena.

Qual seu maior aprendizado?

Foi realmente uma experiência fantástica vivenciar o dia a dia do trabalho musical de um país com tanta tradição nessa área como a Alemanha. Ver o respeito e admiração das pessoas em relação aos artistas e como a arte é elemento integrante em suas vidas, me fez sonhar com essa realidade também aqui no Brasil, afinal, temos artistas tão maravilhosos e que merecem um pouco mais de respeito e oportunidades. Realmente, a Música é uma linguagem universal que tem o poder de enternecer e aproximar as pessoas, agradeço a Deus por esse dom e por poder, através da Música, tocar o coração de outros seres humanos.