Saber identificar o perfil de cada aluno e a partir disso promover dinâmicas que cooperem com o seu desenvolvimento é um dos recursos utilizados pelos educadores do Colégio Presbiteriano Mackenzie de Brasília (CPMB) para que o ambiente escolar seja acolhedor e provocador na medida certa, possibilitando o um progresso constante no aprendizado.
O conteúdo das atividades está alicerçado na didática do afeto para estimular o interesse dos pequenos de acordo com os aspectos únicos da personalidade de cada um. O grande desafio está no planejamento de uma abordagem minimamente comum que considere a heterogeneidade presente nessas turmas.
“Ninguém é igual a ninguém, nem mesmo as crianças. Cada pessoa carrega uma bagagem única e particular a partir de sua estrutura biológica, psicológica, social e cultural”, explicou a orientadora educacional Dayana Garcia, responsável pela orientação entre os responsáveis e as mais de 300 crianças que compõem a Educação Infantil do CPMB. “É assim na vida, é assim na escola”, completou.
Ela comentou que os projetos são elaborados a partir de um olhar individualizado e que atenda a todos, sem exceção, dos alunos mais sensíveis aos mais pragmáticos, dos mais cooperativos aos mais competitivos. Além disso, outra característica essencial para que essa metodologia aconteça de maneira eficaz é o desenvolvimento de uma relação do professor com seus alunos.
“O afeto na educação infantil não tem um momento certo para acontecer, ele deve estar presente em toda a rotina da criança. O estabelecimento de um vínculo é essencial para que essa afetividade possa ser sentida com naturalidade. Principalmente ao atentar-se ao fato de que esta é uma via de mão dupla. Quem afeta também é afetado”, afirmou Garcia.
Toda relação é baseada em afeto e o mesmo acontece entre o mestre e o discípulo. Trabalhar em uma comunicação afetuosa é também ensinar tendo como base a promoção de um diálogo amistoso que tenha um impacto positivo no repertório educacional dos alunos. Como esclarece a psicóloga e orientadora que acompanha a realidade dos estudantes e seus familiares:
“A afetividade é um conjunto de fenômenos que envolvem os seres humanos durante toda vida e cada ação permeia a nossa memória afetiva. Quem não lembra com carinho daquela professora amigável ou até sente calafrios de recordar aquela mais autoritária que lhe causara algum constrangimento? É nessa diferença que os profissionais do CPMB buscam sempre criar nas crianças um repertório benéfico no aprendizado”, comentou a orientadora.
Tomando por base as pesquisas do psicólogo francês Henri Wallon, discute-se a necessidade, por parte da escola, em estudar as emoções na prática pedagógica e na formação docente, de maneira a trabalhar a afetividade do educador e do aluno, compreendendo-os em sua totalidade.
“Se a responsabilidade do educador é contribuir para a formação da personalidade do educando, não há como considerar a função da escola apenas como detentora do conhecimento, mas sim como formadora da construção da afetividade infantil”, argumentou ela.
A bagagem de cada um
Para idealizar e colocar em prática a missão de preparar um plano de aulas que englobe as especificidades do aluno, o pedagogo precisa levar em conta a história única que acompanha a criança e que é fruto das experiências vivenciadas em todos os âmbitos sociais, como, por exemplo, o que trazem de herança de casa ou até o que aprendem na família com primos, tios ou avós.
“São inúmeros os fatores que precisam ser considerados para se compreender a gama de significados que o aluno tem. O que acontece em sua vida pessoal também é levado para escola e requer do formador a habilidade de compreender o ambiente no qual eles estão inseridos”, destacou Garcia.
Essa abordagem é fundamentada no conceito da Zona de Desenvolvimento Iminente ou Proximal (ZDP), proposta pelo psicólogo russo Lev Vygotsky (1887-1934). A ideia determina que as estruturas de aprendizagem acontecem a partir das interações sociais do ponto de vista da construção do conhecimento.
A ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real de um aluno, ou seja, um saber que ele já adquiriu em relação ao nível mais elevado que ele possa alcançar com a ajuda de um mediador, sejam familiares, professores, colegas ou a partir dos produtos culturais com os quais teve contato.
Diversidade
A concepção de Vygotsky abrange ainda a pluralidade de ser dos estudantes. As crianças são diferentes entre si e, além de ponderar essas distinções, o educador precisa dar preferência a uma didática que valorize essa variedade de personalidades.
“Por isso é papel de todo educador do CPMB ter clareza quanto aos objetivos e resultados que pretende alcançar em seu trabalho, evitando que uma atividade não venha a exigir mais nem menos de cada criança. Isso proporciona a elas a segurança e o conforto necessários para um ensino instigante e dinâmico”, confirmou a orientadora.
Propor trabalhos em grupo e misturar alunos que apresentem diversos níveis de aprendizagem faz com que cada um construa diferentes maneiras de pensar e trabalhar. O desenvolvimento de habilidades socioemocionais faz parte do crescimento.
A importância da Educação Infantil
O convívio social das crianças, atualmente, está totalmente relacionado ao período em que iniciam a educação infantil, por volta dos três anos de idade. Diferentemente do que acontecia décadas atrás, quando as taxas de natalidade eram maiores e, consequentemente, a relação com irmãos e primos se fazia mais presente, os novos brasileiros têm nas escolas o primeiro contato com o mundo fora de casa.
Nesta interação com o outro, centralizada na relação tanto com os coleguinhas quanto com os educadores, é que cada um vai perceber e fortalecer a sua identidade. Especialistas modernos defendem que cada criança já possui a sua própria personalidade e são, portanto, pessoas já formadas – e não em formação. As características individuais precisam ser levadas em consideração.