A queda de interesse nos programas de pós-graduação foi tema de artigo publicado em quatro de junho deste ano pela revista Pesquisa Fapesp. O sistema de pós-graduação tem sofrido um desequilíbrio que foi desencadeado por diversos fatores. Depois de três décadas intensas, onde o número de alunos cresceu irrefreavelmente, o avanço esfriou . Apesar dessa crise ter se consolidado durante a pandemia, o problema já se apresentava anteriormente, os estudantes já mostravam uma diminuição no interesse pelos cursos de pós, principalmente devido à perda no valor de bolsas. Com o fechamento de laboratórios e o adiamento de projetos, o afastamento dos discentes se intensificou. Mesmo após o fim da emergência sanitária, a crise permaneceu.
De acordo com o diagnóstico fornecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em mais de 20 áreas do conhecimento a oferta de vagas é maior do que a procura. Rachel Meneguello, pró-reitora de Pós-graduação da Universidade Federal de Campinas (Unicamp), acredita que o fenômeno tem relação com as transformações do mercado de trabalho e com as expectativas dos estudantes ou profissionais que já não se sentem atraídos por um modelo baseado em um longo período de formação e orientado à preparação de docentes.
Além disso, em algumas áreas há um desequilíbrio maior entre o número de candidatos inscritos e de ingressantes do que em outras. Nos cursos de doutorado de engenharia na Unicamp, o índice de interesse caiu de 1,29 em 2011 para 1 em 2022, enquanto em linguística, letras e artes, no mesmo período, foi de 4,26 para 9,33. A partir de dados compilados por Renato Pedrosa, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA – USP), fica claro que as áreas que mais sofreram com o fechamento de laboratórios durante a pandemia estão demorando mais a se recuperar. Algumas unidades da federação também exibem maiores dificuldades.
Marcio de Castro Silva Filho, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), afirma que a descentralização que ocorreu em estados como São Paulo nas últimas décadas ajuda a explicar a queda nos números de titulados. Segundo ele, a redução do número de candidatos parece ser maior em cursos com notas mais altas na avaliação da Capes, que são mais comuns em estados consolidados. Connie McManus, gerente de Relações Internacionais da FAPESP, afirma que outro motivo para o desinteresse nos cursos de pós-graduação é a formação demasiadamente longa.
O Conselho Nacional de Educação discute sobre a reorganização da pós-graduação brasileira. A ideia é estreitar a relação da pós com o setor produtivo não acadêmico, quebrar a hierarquia do mestrado como curso preliminar do doutorado e flexibilizar o formato dos programas. A Universidade de São Paulo destaca a importância da atualização de currículos, de modo a formar doutores com novas habilidades, capazes de explorar empregos em diversos setores. A instituição também planeja tornar mais rápida a obtenção do doutorado para alunos que seguem carreira científica.
Da mesma forma, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) está preparando ações para atrair e reter estudantes de pós-graduação. Uma das medidas tomadas é oferecer uma bolsa de R$ 1,2 mil para alunos em situação vulnerável que ainda não dispõem de bolsas de agências de fomento. Embora os profissionais discutam sobre qual abordagem seria mais apropriada, há um consenso de que os programas precisam ganhar mais autonomia para enfrentar o desinteresse dos alunos.
Para ler a matéria na íntegra, acesse: https://revistapesquisa.fapesp.br/cai-interesse-por-programas-de-pos-graduacao-no-pais/