26.07.2019 Atualidades
Foi com sorrisos, agradecimentos e muita esperança que a primeira turma capacitada pelo Open Taste participou da cerimônia de encerramento ocorrida na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) em 25 de julho, no campus Higienópolis. O projeto gastronômico de empreendedorismo formou 16 refugiados de diversos países, que aprenderam sobre gestão da cozinha, criação de ficha técnica, marketing digital, storytelling, fotografia pelo celular, finanças pessoais e empreendedora e muito mais.
De acordo com Joanna Ibahim, idealizadora do Open Taste, “o curso ocorrido na UPM foi um momento de angariar experiência e colocar aprendizados em prática, como num restaurante”, diz ela.
Joanna é uma mulher síria que chegou ao Brasil em 2015 e iniciou uma startup para conectar refugiados com o público brasileiro através dos alimentos. Ela saiu de seu país por conta da situação insustentável da guerra e encontrou no Brasil a chance de não apenas se estabelecer, mas também de ajudar outros refugiados. Seu projeto começou com a ideia de que os estrangeiros trazem muito de sua cultura consigo e que, mesmo que não consigam se colocar no mercado de trabalho nas áreas que exerciam em seus países, podem, por meio da culinária, vislumbrar uma nova oportunidade.
O evento de formatura da capacitação do Projeto Open Taste contou com a participação do reitor da UPM, Benedito Guimarães Aguiar Neto; Berenice Carpigiani, diretora do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da UPM; Camila Landi, coordenadora do curso de gastronomia da Universidade; e diversos parceiros e apoiadores do projeto como Kauê Porte, diretor da Volkertek; Paulo Humaitá, fundador da Bluefields Aceleradora, startup voltada à aceleração de empresas e que faz parte da Incubadora Mackenzie; e Dennis Nakamura, sócio da Relp, aceleradora de restaurantes.
Por que capacitar?
Como conta Joanna, após incubar essas ideias e pessoas, seu projeto passou a alugar um espaço no bairro de Pinheiros, em São Paulo, onde toda semana um chefe de um país diferente era responsável pelo cardápio. “Era um momento de teste mesmo, de público, demanda, todo trabalho. Foi aí que descobrimos que temos de treinar pessoas, equipes e padronizar tudo isso e para conseguir abrir nosso próprio espaço, ou seja, a gente precisa de uma equipe mais profissional”.
Foi essa necessidade e a busca por parceiros que fez com que o Open Taste encontrasse outras empresas como a Relp, Volkertek e Bluefields, esta última que conectou o projeto com a UPM e permitiu essa capacitação de 16 pessoas vindas de diversos países como Congo, Chile, Venezuela, Colômbia, Síria, Egito e outros nas cozinhas profissionais da Gastronomia Mackenzie.
Segundo Joanna, esse curso foi apenas o primeiro passo. “Estamos em um momento de levantar recursos, tanto com patrocinadores quanto com investidores. Essa turma que concluiu a primeira edição vai entrar no restaurante para trabalhar ao longo do ano, a ideia é formar uma turma por ano, aprender, praticar e seguir capacitando”, complementa ela.
Apoio mackenzista
Aguiar Neto considera o projeto extremamente relevante porque faz parte da responsabilidade social mackenzista colocar o conhecimento e capacidade de formar pessoas a serviço de um público extremamente necessitado de oportunidades. “A gastronomia, pela sua versatilidade, permite inúmeras oportunidades de gerar empreendimento, considero um caminho muito acertado”, adiciona o reitor da UPM.
Ele destaca que conheceu o projeto por meia da empresa Bluefields, que está incubada na Universidade e é voltada para projetos sociais. “Esse é um exemplo de uma iniciativa muito bem-sucedida e que tem um futuro bastante promissor, com o objetivo de implantar um restaurante multicultural. E todo suporte técnico a esses chefes vai ser dado pelo nosso curso de Gastronomia”, enfatiza.
Humaitá, da Bluefields comenta que a aceleradora tem dado todo apoio para o Open Taste. “São assessorias na área financeira, jurídica e até na parte de pessoal. É um projeto que está dentro da nossa estrutura”, afirma.
Berenice, do CCBS, pontua que o mundo vive no tempo da multiculturalidade e que é impressionante ver pessoas que passaram por tanta dor e que têm tantas carências, e ainda assim com um potencial enorme. “É muito bonito da gente observar esse ser humano no potencial que ele tem, naquilo que ele pode fazer para que sua vida melhore. Aonde ele tem que se aportar, física, psíquica e espiritualmente para poder se desenvolver”, afirma ela.
Para Camila, da UPM, essa é uma experiência muito gratificante por trabalhar a questão social e cultural através da gastronomia. “A comida como um vínculo com a terra natal, com a aproximação entre as pessoas. Na verdade, o alimento é um símbolo, uma linguagem para resgatar laços e fazer novos, além do olhar empreendedor. É o que estamos proporcionando aqui, em parceria: profissionalizando para que eles possam se sustentar, sustentar a família, ter autonomia. É pensar num contexto com o ser humano completo no centro”, completa a coordenadora.
Ela fala ainda do brilho nos olhos dos capacitados que mostram uma conquista. É o empoderamento de uma forma muito profissional, porque são empresas e uma Universidade dando apoio por traz desse projeto que tem uma idealizadora com um princípio fantástico, humano, social, empreendedor. É um prazer enorme do curso de Gastronomia da UPM apoiar e abrir as portas para este e os próximos passos de qualificação profissional”, finaliza ela.
Suporte para crescimento
Além da UPM e da Bluefields, o projeto Open Taste ainda recebe o apoio da empresa Volkertek, que fechou uma parceria de dois anos e que engloba a parte de site, servidores, e-mail, mídias sociais, design, e outras ferramentas necessárias na parte de sistema; e da Relp, que ajuda restaurantes na parte de gestão, planejamento, marketing, operação, delivery e finanças.
Como conta Porte, Joanna chegou até ele em setembro de 2018 e toda empresa abraçou o projeto com carinho. “A gente sabe que hoje estamos em um país que enfrenta alguns problemas, mas não chegam nem perto de uma guerra. Uma das regras de qualquer negócio é você dar alguma coisa de volta para a sociedade. A gente sabe que não dá para mudar tudo de uma vez no mundo, mas de pouquinho em pouquinho a gente consegue”, assinala o diretor da Volkertek.
Já Nakamura ressalta que o Open Taste lhe foi atrativo por permitir que as pessoas comecem a vida de uma forma nova. “Dentre os formados, temos engenheiros, jornalistas, mas que aqui no Brasil não podem exercer sua profissão e acabam se reinventando a partir da gastronomia. Esta é uma oportunidade para a gente fazer o que gosta e o que temos como propósito da empresa: não só ajudar os empreendedores refugiados, mas também aprender com eles”, conclui o sócio da Relp.