“Indescritível. O nosso sonho era o Mackenzie, a luta sempre foi essa”, disse Aaron Schich, aluno da primeira turma da Faculdade de Direito (FDir) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), ao voltar pela primeira vez no campus Higienópolis depois de mais de seis décadas.
Bacharel da turma de 1959, homenageada na entrada do prédio 24, Aaron Schich foi o primeiro estudante a receber o diploma do curso de Direito. Hoje, aos 90 anos, Aaron contou que sua história no Mackenzie iniciou em 1954, com o vestibular, e no ano seguinte, com as aulas.
“Não havia Faculdade de Direito, era uma Faculdade de Química que se adaptou para o Direito, e lá começamos as aulas, sem apostilas, sem livros, sem nada”, comentou Aaron.
Os professores, segundo ele, foram retirados de outras faculdades de Direito da época, que continuaram com suas atividades nas instituições, mas também formaram o corpo docente mackenzista. “Direto Penal era uma disciplina ministrada pelo promotor Edgar Magalhães de Noronha, Direito Civil era dado pelo desembargador Manuel Augusto Vieira Neto”, pontuou.
As aulas eram no período da manhã e, de acordo com o advogado, os bancos da sala de aula eram todos numerados em fileiras e os lugares vagos eram anotados, como faltantes. Aaron se recordou que seu lugar ficava na ponta direita, justamente por seu nome começar com a letra A.
Ele também relembrou que os livros eram caros e o material para estudar era preparado pelos próprios estudantes, com o apoio do Centro Acadêmico. Gravadores de fita eram usados em aula e depois eram levados para casa, o conteúdo era datilografado ou passado à mão para o caderno. A última etapa era montar as apostilas e tirar cópias para os alunos.
“Havia um livreiro, na Rua Benjamin Constant, que nos atendia e quando comprávamos os livros, ele dizia ‘Eu não cobro, vocês não têm dinheiro para pagar, quando puderem vocês me pagam’, e assim nós fomos devagarinho. Depois, lógico, pagamos aos poucos, dentro das possibilidades, porque a vida era muito difícil”, recordou sobre o uso de livros para as aulas.
Nas vésperas de provas, Aaron Schich e seus colegas se reuniam para estudar juntos e trocarem ideias. Apesar das dificuldades materiais, ele se lembra da época com muita alegria e disse que “foi um período lindo da vida, porque tudo nós tivemos que criar, nada existia”.
A visita de Aaron ao Mackenzie
Acompanhado de sua esposa e companheira de vida, dona Frida, e da filha Rose, também mackenzista, Aaron Schich visitou os prédios 03, 24 e 25 do campus Higienópolis, locais onde as aulas do curso de Direito acontecem.
Como contou Rose Schich, há cerca de um mês, dona Frida comentou com a filha que seu Aaron sonhou que estava visitando o Mackenzie. Rose, então, entrou em contato por telefone e e-mail, até a professora do curso de Direito, Ana Claudia Torezan, retornar o contato e marcar a visita para o dia 25 de abril, última terça-feira.
O advogado conversou com alunos de diferentes semestres e relatou suas experiências tanto no período como estudante quanto depois de formado. A coordenadora do curso, professora Renata da Rocha, e outros professores do Direito Mackenzie acompanharam a visita.
“A gente vê o valor que os alunos dão para a Faculdade de Direito e para Mackenzie”, concluiu Aaron Schich, ao agradecer o carinho que recebeu dos mackenzistas ao longo do dia.