25.10.2018 - EM Cultura
Dois anos de pesquisa de campo e documental, com viagens pelo Brasil e a diversas cidades dos Estados Unidos, com a colaboração da Polícia Federal norte-americana e de mais três jornalistas dos EUA. Esses foram os recursos necessários – além, é claro, de um pesquisador curioso e dedicado – para a composição do livro John Theron Mackenzie: Vida e Legado, que foi lançado na terça-feira, 23 de outubro, no Centro Histórico e Cultural (CHCM) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), em Higienópolis.
De autoria do atual presidente da Academia Mackenzista de Letras (AML), Nelson Câmara, que é também advogado formado pela Faculdade de Direito do Mackenzie (FDir), a obra foi lançada concomitantemente à abertura da Exposição de mesmo nome que traz, pela primeira vez na história, uma coletânea de fac-símiles de documentos iconográficos e textuais – muitos deles absolutamente inéditos – que remetem ao patrono que empresta seu nome ao prédio 01 do Mackenzie, a maior instituição educacional presbiteriana do Hemisfério Sul.
Os materiais para a exposição foram coletados e disponibilizados por Nelson Câmara, mackenzista que visa valorizar a história da instituição. “Por essa razão, também cedi os direitos do livro para que a editora Mackenzie, futuramente, possa reproduzir a obra”, conta o autor.
Câmara narra que cerca de três anos atrás, quando da fundação da AML, o falecido professor Alexandre Huady, ex-diretor do Centro de Comunicação e Letras (CCL) e membro fundador da Academia ao lado de Câmara e outros companheiros, sugeriu que cada acadêmico escrevesse um livro sobre o patrono ou patronesse da cadeira que ocupa. “Ficou como uma ideia, e meu lado escritor falou mais alto, então eu disse: vou aceitar o desafio e escrever o livro de John T. Mackenzie, patrono da minha cadeira”.
Reconhecimento de autoridades mackenzistas
Para José Inácio Ramos, presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM), essa feliz pesquisa e trabalho de Nelson Câmara vem trazer consistência à história do Mackenzie, seus colégios, universidade e faculdades, enfim a todas as suas mantidas. “Todas as histórias que apenas conhecíamos, Câmara agora traz para o livro de forma documentada e lança luz sobre a honrada atitude de nosso grande benemérito, John T. Mackenzie, que efetuou uma oferta para a criação de um curso de Engenharia no Brasil, favorecendo o trabalho que o casal Chamberlain desenvolvia desde a criação da Escola Americana, a qual John T. Mackenzie havia conhecido por correspondências com José Bonifácio, mas que infelizmente nunca visitou pessoalmente”, destaca Ramos.
Já o reitor da UPM e presidente honorário da AML, Benedito Guimarães Aguiar Neto, acredita que o livro de Câmara, por ser um trabalho jornalístico e também acadêmico, vem encorpar ainda mais a atuação da AML e acrescentar à história mackenzista, já que resgata alguns episódios e fatos que não eram amplamente conhecidos até então. “O livro traz à tona aquele ímpeto e visão de John T. Mackenzie em apoiar o Brasil através da criação de uma Escola de Engenharia (EE) que acabou por se tornar essa grande Universidade, composta por sua EE, mas que hoje é um dentre os nove centros acadêmicos da UPM”, completa ele.
De acordo com o chanceler do Mackenzie, Davi Charles Gomes, o que John Theron Mackenzie fez foi criar uma oportunidade para uma mudança no âmbito do trabalho que já vinha sendo executado aqui no Brasil pelo casal Chamberlain. “E o livro de Nelson Câmara mostra essa grande preocupação de John com o desenvolvimento das ferrovias aqui no país e, portanto, com uma questão técnica. Isso deu ao IPM todo um aspecto especial, pois reúne um trabalho humanístico, com preocupações com as questões de ordem divina, junto à capacitação técnica de qualidade desde sua fundação”, pontua.
História
Conforme relata Nelson Câmara, John Theron Mackenzie foi um grande advogado de Nova York, e um benfeitor do IPM que deixou sua herança para que se construísse aqui no Brasil uma escola com curso de Engenharia voltada às ferrovias. Ele tinha grande admiração pelo Brasil desde menino, pela influência que tinha de José Bonifácio, com quem se correspondia.
Relembrar a narrativa de John traz ao IPM sua identidade e muitas peculiaridades. O livro é um documento histórico, com escrita exaustiva, e que remonta às raízes do Mackenzie e sua trajetória ao longo do tempo, com documentos sobre disputas políticas, história religiosa, e superação de desafios para que se chegasse até onde atualmente estamos.
Como ressaltou o chanceler, o ato de John foi como a passagem bíblica em que Abraão, já idoso, planta tamargueiras. Pelas características da árvore, seus frutos só despontam após diversas décadas, portanto, quem planta tais árvores o faz mais para as gerações futuras do que a si mesmo. “E foi exatamente o que fez John T. Mackenzie ao efetuar sua generosa doação ao Brasil, plantou belas sementes que hoje frutificam e das quais cuidamos com muito carinho e dedicação”, enfatiza Gomes.
John Mackenzie foi sepultado em Lyons, cidade próxima a Nova York, nos EUA. Em sua lápide há menção de ter sido um dos fundadores de uma instituição educacional em São Paulo, no Brasil.