Vale a pena fazer a continuação de um filme?

Professor do Centro do Comunicação e Letras fala sobre os riscos e desafios das continuações cinematográficas 

18.11.202417h59 Comunicação - Marketing Mackenzie

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Em 2024, chegaram às telonas do cinema diversas continuações de filmes, como Venom 3, Sorria 2, Gladiador 2 e Coringa 2: Loucura a Dois. Porém, nem todas as continuações agradaram ao público, e o retorno de Coringa gerou grande polêmica, dividindo opiniões. O filme, que havia sido um grande sucesso em 2019, arrecadando cerca de um bilhão de dólares, retornou com uma proposta bem diferente, o que levantou a questão: será que vale a pena continuar uma história? 

 Riscos Criativos  

Uma das principais questões que envolvem as continuações é o risco de perder a essência do original. No caso de Coringa 2, a tentativa de “desconstruir” o personagem, retirando seu lado dramático e sua característica de vilão cômico, para transformá-lo em um musical dramático, gerou muitas críticas. O filme foi considerado, por muitos, uma grande mudança em relação ao que o público esperava. Essa tentativa de seguir um caminho inesperado, além de afastar-se da essência do Coringa dos quadrinhos, pode ter sido um fator importante para o desapontamento dos espectadores. 

A insatisfação com a continuação do Coringa evidencia uma questão sobre as continuações: o equilíbrio delicado entre inovação e expectativa do público. Muitas vezes, os fãs têm uma ideia muito clara do que esperam de um filme baseado em seu sucesso anterior, e mudanças radicais podem resultar em frustração. 

Mercado x Criatividade 

Ao lado dos riscos criativos, as continuações são fortemente influenciadas pelo mercado. O cinema, como qualquer outro produto de consumo, envolve investimentos altíssimos, especialmente em filmes de grande orçamento, como os de super-heróis e vilões. 

Em alguns casos, a pressão para gerar lucro pode comprometer a qualidade artística do filme. Quando o foco está na bilheteira, o resultado final pode perder a originalidade, como ocorre quando um filme é feito apenas para agradar a uma audiência específica ou para explorar um conceito que já foi saturado.  

Coringa 2, por exemplo, foi uma decisão puramente mercadológica, uma vez que tanto o diretor Todd Phillips quanto o protagonista Joaquin Phoenix inicialmente não estavam interessados em dar sequência ao filme. A pressão da Warner Bros., no entanto, levou à continuação, o que pode ter afetado a qualidade da produção. 

Lucas Abrunhosa, professor do curso de Cinema da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), aponta que a falta de entusiasmo de figuras-chave no projeto, como o diretor e o protagonista, é um sinal de que a continuidade de um filme pode não ser a melhor escolha criativa. Ele destaca que, quando as peças principais de uma produção não estão motivadas, o resultado tende a ser comprometido. 

“Primeiro, precisamos entender que o Todd Phillips, diretor do Coringa, e o Joaquin Phoenix, o protagonista, nem queriam retornar a esse universo. Quando você coloca uma cantora multifacetada, como a Lady Gaga, que é muito talentosa, muitas pessoas começaram a dizer “ela estragou o filme”, mas não acredito que tenha sido o caso, porque ela fez Nasce uma Estrela e até ganhou o Oscar. Então, a questão aqui é a direção. Quando você tem um diretor que já não queria continuar naquele projeto, mas tem um contrato com o estúdio, ele precisa cumprir”, explica o professor. 

Equilíbrio entre as peças  

As continuações de filmes levantam um debate entre duas forças: a liberdade criativa dos cineastas e a expectativa do público. Quando uma história já tem uma base de fãs sólida, há sempre o risco de rejeição se a sequência não atender as expectativas. Por outro lado, tentar reinventar a história de forma radical, como no caso de Coringa 2, pode afastar o público que esperava algo mais fiel ao original. 

Portanto, quando se trata de fazer uma continuação, é essencial encontrar um equilíbrio entre preservar o que tornou o filme original especial e, ao mesmo tempo, trazer algo novo para manter a história relevante. É sempre necessário pensar em métodos para driblar os riscos das rejeições. No caso de Coringa, Abrunhosa sugere o uso do Universo Expandido para "salvar" o filme, assim como foi feito em franquias como Star Wars 

"A resposta encontramos na franquia Star Wars, que teve muitos altos e baixos, mas apostaram em um universo expandido. O Coringa, por si só, já é um universo à parte de Batman. Quando você observa o que temos hoje, em termos de produtos de Star Wars, tentando corrigir o que aconteceu com a última trilogia, o público voltou a consumir, voltou a se sentir dentro desse universo e agora está pronto para um novo filme", diz Abrunhosa.  

Ou seja, falar sobre o sucesso ou rejeição de um filme é algo incerto. No entanto, é sempre necessário que os produtores não radicalizem nas novas construções ou comuniquem de forma clara suas mudanças e os motivos por trás delas. 

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