Cooperando para inovar: a relação universidade-empresa

02.05.2018

Mauricio Henrique Benedetti


A cooperação entre universidades e empresas tem sido um caminho explorado por países desenvolvidos para aumentar sua competitividade por meio da inovação, contudo ainda pouco explorado e repleto de entraves em países de economias emergentes como o Brasil. Com o objetivo de possibilitar uma reflexão a respeito do assunto, publicarei aqui no site do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica uma série de artigos a respeito da relação universidade-empresa como meio de potencializar a capacidade de inovação das empresas brasileiras. Neste primeiro artigo, o propósito é apresentar ao leitor essa real e positiva possibilidade de transferência de conhecimentos e tecnologias entre empresas e universidades. Na sequência, falarei sobre a motivação e os antecedentes, como ocorre a aproximação, sobre a gestão de acordos para parcerias e as dificuldades e os facilitadores que estão presentes na relação universidade-empresa. Espera-se, dessa maneira, contribuir para a reflexão a respeito das possibilidades de aproximação e cooperação entre universidades e empresas.

Nos últimos anos, tem se observado uma mudança de paradigmas na gestão da inovação de muitas empresas: de um modelo fechado de inovação para um modelo aberto. Nesse modelo de inovação, o fluxo de conhecimento se dá tanto no sentido de entrada, ou seja, absorção do conhecimento externo pela empresa, quanto no sentido de saída, de forma que se possibilite a circulação e difusão do conhecimento para os parceiros externos. Envolve ainda o estudo da viabilidade de desenvolvimento, aplicação, proteção e comercialização de novas tecnologias, que podem ser incorporadas aos negócios da empresa ou abrir novas fontes de ganhos financeiros em novos modelos de negócios ou serem direcionadas para modelos de negócios já existentes em que se possa obter maior valor com a inovação. A inovação aberta pode ser entendida como aquela que ocorre a partir da participação de fontes externas, que pode envolver fornecedores, empresas de outros segmentos, empresas concorrentes, universidades e institutos de pesquisa.

A transferência de tecnologia que ocorre a partir da relação de cooperação universidade-empresa é aquela pela qual os conhecimentos gerados na universidade são levados para a empresa como resultado da colaboração entre pesquisadores da universidade e os pesquisadores da empresa e que pode ocorrer por meio da cooperação em projetos de pesquisas ou aquisição de tecnologias já desenvolvidas e disponibilizadas pela universidade. Também envolve a contratação de egressos da universidade e o aperfeiçoamento da equipe de pesquisa da empresa por meio de cursos específicos, pós-graduação, seminários e outros eventos que possibilitam a troca de conhecimento entre os professores e alunos das universidades e os pesquisadores da empresa.

A relação das empresas com as universidades no Brasil tem evoluído e tende a melhorar. Apesar de haver claro empenho de alguns setores do governo em direção a aprimorar essa relação, como por exemplo o novo Marco Regulatório (Lei nº 13.243/2016) que entrou em vigor recentemente, ainda há muito a ser feito para redução dos entraves de nossa excessiva burocracia. Esse ainda é um processo em desenvolvimento que precisa ser melhor compreendido e explorado para que os benefícios propostos sejam de fato utilizados pelo setor empresarial e o meio acadêmico. Notadamente, há uma intenção positiva das três esferas, ou seja, a academia, a indústria e o governo, mas as discussões a respeito da disponibilidade de linhas de crédito e aplicação desses recursos, assim como as novas tecnologias desenvolvidas ainda precisam continuar para que o resultado seja a maior competitividade das empresas nacionais e do país.

Os acordos de parcerias entre universidades e empresas têm aumentado e ganhado importância na agenda da inovação brasileira, mas o principal meio do conhecimento gerado na academia chegar ao setor produtivo ainda é a contratação de pesquisadores e alunos egressos, dos níveis de graduação e pós-graduação. Também se destacam, mas em menor número, os trabalhos de pesquisa que alunos realizam nos ambientes das empresas, os serviços de consultoria prestados pelos professores e as spin-offs acadêmicas que procuram outras empresas para oferecerem o licenciamento ou comercialização de suas tecnologias desenvolvidas nos ambientes acadêmicos. 

Ainda é reduzida a iniciativa das universidades em procurarem as empresas para estabelecerem uma relação de cooperação ou mesmo comercialização de tecnologias. Também não é comum as universidades divulgarem suas principais competências, que poderiam colaborar para necessidades específicas das empresas, prevalecendo os contatos existentes nas redes de relacionamentos dos pesquisadores ou a busca individual e sistemática das empresas que se interessam em encontrar, nas universidades, apoio para suas pesquisas. A atuação proativa das universidades na divulgação de suas principais competências para as empresas ainda é bastante incipiente, mas que se mostra como um elemento interessante para o modelo de inovação aberta das empresas.

Observa-se que esse processo necessita ser enriquecido com uma maior abertura e adequação das empresas para a utilização do conhecimento de fontes externas, assim como maior clareza para as universidades das reais necessidades do setor produtivo, a partir do compartilhamento de uma visão de gestão de negócios que o mercado exige. Não significa deixar de lado os princípios que norteiam a geração do conhecimento nas universidades, porém enfatiza-se a necessidade de reconhecer a realidade do ambiente competitivo em que estão inseridas as empresas que buscam desenvolver suas inovações em um modelo aberto com participação de parceiros.

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