Prof. Dr. Adilson Caldeira
Centro Mackenzie de Liberdade Econômica
Mestrado Profissional em Administração do Desenvolvimento de Negócios
16.10.2018
Sob o prisma dos estudos sobre comportamento organizacional, o desempenho de um grupo de trabalho é comumente correlacionado ao estilo de liderança adotado. Dentre as propostas taxonômicas que identificam estilos de liderança característicos das organizações, há a que identifica três tipos alternativos: liderança autocrática, democrática e liberal.
A autocracia se aplica a condições em que se faz necessário que o líder determine regras e objetivos, cobrando, exigindo e punindo seus subordinados, para que os objetivos organizacionais sejam atingidos. A liderança democrática é indicada quando o grupo formado por líder e liderados conquista melhores resultados quando as decisões são compartilhadas. Já a liberal, conhecida como laissez-faire, é a mais eficaz quando o comportamento do grupo produz melhores resultados se o líder delega as decisões aos liderados e limita-se a exercer o controle sobre os resultados, e não sobre os meios utilizados para atingi-los. Parece evidente que o sucesso da liderança liberal demanda que as pessoas e a organização tenham suficiente maturidade nas relações interpessoais, um processo eficiente de comunicação e profissionais capacitados para a tomada de decisões.
Em 1.939, pesquisadores da Universidade de Iowa analisaram aspectos positivos e negativos observados na prática de cada um dos três estilos. Como o liberal e o democrático presumem o predomínio de estímulos comportamentais para o alcance de objetivos, em contraposição à ação preponderante de supervisão do líder sobre os liderados, pressupôs-se que a produtividade seria menor sem a supervisão contínua dos líderes na execução das tarefas, de modo que o estilo autocrático conduziria a melhores resultados do que os demais. Vale lembrar que o cenário econômico de então apresentava reflexos da grande depressão que culminou com a quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1.929, e que persistiu ao longo da década de 1.930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. Estar empregado era, então, um privilégio que o trabalhador buscava, prioritariamente.
Mesmo nos dias atuais, contudo, ainda se observam atividades empresariais em que as relações de autoridade nos grupos de trabalho se fundamentam no estilo autocrático. Supostamente, os trabalhadores que se submetem a tal sistema de atuação se acomodam e produzem muito mais quando ameaçados de punição do que quando estimulados a colaborar. Traços culturais como esses são encontrados em inúmeras empresas bem conceituadas pelos agentes de mercado, com reconhecido sucesso nos negócios.
Pensando em tendências futuras, porém, nota-se que o mercado de trabalho conta com indivíduos cada vez mais independentes e preparados para discernir entre o certo e o errado e assumir responsabilidade compartilhada em busca de atingir objetivos organizacionais, viabilizando a prática de liderança horizontalizada, com interação, e mecanismos em que todos são ouvidos. Um exemplo conhecido é o Google, a empresa considerada adaptada a essa nova era, com um modo inovador de ser. Liberdade de horário, escritórios equipados com jogos, ambientes para descanso, permissão para animais de estimação no local de trabalho, são típicos na empresa, em que todos têm acesso a assuntos que estão sendo tratados, podendo opinar quando assim o desejarem.
Mesmo com essa liberdade, o líder é responsabilizado pelo cumprimento de metas, atuando como um guia para direcionar o trabalho da equipe. A liberdade não implica em ausência de cobrança, exigindo que o líder consiga engajar seus liderados para que todos se empenhem em realizar o melhor trabalho possível. Cabe-lhe demonstrar confiança na capacidade dos colaboradores, conceder-lhes autonomia para trabalhar de forma independente, realizando tarefas com o mínimo de orientação, certificando-se de que os resultados do trabalho em todos os níveis sejam satisfatórios ao desempenho organizacional. É, pois, condição preponderante para a aplicação plena e eficiente da liderança liberal, que a organização tenha uma cultura com alto nível de maturidade.
No âmbito das organizações, vale o que proporciona os melhores resultados. Estilos de liderança são meios para que eles se concretizem. A importância atribuída ao bem-estar dos colaboradores não se sobrepõe à da viabilidade econômico-financeira e à lucratividade do negócio, mas a tendência é de quanto mais se conciliarem ambos os aspectos, maior o potencial de desenvolvimento de uma organização, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos de seu comportamento.
Transpondo tal situação para grupos sociais de maior abrangência, cabe propor uma reflexão sobre a tendência da administração pública. Com o objetivo de trabalhar a favor dos direitos e interesses dos cidadãos que administra, ela pode ser concebida de acordo com as respostas de seus atos.
O predomínio de atos de caráter autoritário e regulador por parte do Estado revela uma cultura geral da sociedade cuja maturidade ainda não se revelou suficiente para que impere o pleno liberalismo. A exemplo do sucesso obtido pelas organizações que adotaram estilos liberais de liderança, cabe às lideranças políticas buscar o desenvolvimento das Nações que governam construindo e moldando culturas que proporcionem melhores resultados com maior liberdade de ação dos agentes sociais liderados. Estes, por sua vez, devem demonstrar que fazem jus a participar das decisões que afetarão o destino da Nação, com a conquista de espaços para proporcionar resultados propícios ao desenvolvimento econômico e social em condições liberais